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Ótimo texto de Sorkin e ótimo elenco em um drama jurídico imperfeito

Crítica : Os 7 de Chicago (2020)

Arthur Pereira


The Trial of the Chicago 7 (2020), de Aaron Sorkin, seria distribuído pela Paramount Pictures, mas devido à pandemia do corona vírus foi vendido para a Netflix. O projeto – que esteve em produção durante treze anos e inicialmente seria dirigido por Steven Spielberg – traz à discussão temas como racismo, protestos civis e violência policial de forma equilibrada, nada sutil e com um ritmo que fazem as mais de duas horas de rodagem passarem rapidamente.


O diretor diz em sua masterclass que “as primeiras quinze páginas são as mais importantes para vender a sua ideia”. Aqui, a sequência inicial já destaca os pontos mais fortes do longa: o roteiro e a montagem, enquanto ambienta o espectador (utilizando inclusive filmagens reais) na conjuntura da Guerra do Vietnã, das eleições presidenciais que elegeram Richard Nixon e do movimento da contracultura que culminaram nos protestos e repressão policial durante a Convenção Nacional Democrata de 1968.


Aaron Sorkin – responsável pelos roteiros de Moneyball (2011) e Steve Jobs (2015), e vencedor do Oscar 2011 de melhor roteiro adaptado com o brilhante A Rede Social (2010) – é indiscutivelmente um dos melhores roteiristas da atualidade, com textos que tratam sobre temas sérios e truncados (como política) com toques de humor e diálogos velozes e musicais. A escrita metrificada de Sorkin com longas linhas de fala, muitas variações de ritmo, interrupções e padrões de sílabas e palavras que são repetidas frequentemente (como “Chicago” no início do longa), novamente é um toque especial na obra em construção. Entretanto, nesse segundo trabalho como realizador, também dirigiu Molly’s Game (2017), Sorkin mostra outra vez certa dificuldade na progressão narrativa e em transportar para a tela toda potencialidade do ótimo texto.


É importante ressaltar que o filme não é totalmente fiel à realidade, com mudanças de cronologia visando deixar o roteiro mais coeso e humorado. Essa decisão é por um lado positiva, já que a liberdade criativa é usada pra estruturar uma história com três atos palatável para o grande público, mas por outro lado me deixou com a reflexão se a interessantíssima e revoltante história em si já não teria força o bastante para se sustentar. Um exemplo de mudança drástica – tendo como base os relatos do julgamento – é a personalidade do personagem interpretado por Joseph Gordon-Levitt, que aqui é completamente descaracterizado para criar um antagonista cativante. O clímax e o encaminhamento final do filme também é, de certa forma, decepcionante. Todavia, irá agradar ao grande público que busca uma opção dramática agridoce: durante a exibição gera indignação e quando sobem os créditos a leveza e diversão da obra sobressaem.


As performances do elenco de peso são ótimas, com atenção especial à Frank Langella como o juiz imparcial, Yahya Abdul-Mateen II carregando as cenas com mais impacto do longa e Sacha Baron Cohen: o comediante britânico conhecido por representar Borat representa a escolha mais curiosa e, ao meu ver, acertada do filme, sendo muito efetivo nas cenas de humor e encarnando a icônica figura de Abbie Hoffman brilhantemente. Mark Rylance, Jeremy Strong e Eddie Redmayne também são muito consistentes. A boa trilha sonora de Daniel Pemberton (Birds of Prey e Enola Holmes) ajuda a ditar o ritmo da história, mas às vezes cai em um lugar incômodo ao buscar manipular o sentimento do espectador. Ademais, a montagem de Alan Baumgarten é frenética e brilhante ao colocar em prática as idas e vindas do roteiro.


Nota:

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