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Mais um clichê brasileiro?

Crítica: Diários de intercâmbio (2021)

Rafael Tunnusi


Saiu o mais novo filme de Larissa Manoela na Netflix. Independentemente de quem dirigiu, escreveu ou produziu, quando o filme conta com um dos dois patrimônios culturais do Brasil, Maísa ou Larissa Manoela, o filme é delas. E como eu sou o integrante da Lacrymosa com o paladar mais infantil possível para filmes fui o escolhido para fazer a análise. Já adiantando, o filme é extremamente divertido e cumpre a sua proposta com perfeição.


A primeira coisa a se fazer é ter noção do público-alvo ao qual o filme é intencionado, nesse caso, crianças e adolescentes, mas fui pego de surpresa. Obviamente, é um filme adolescente clichê, mas não é mal construído ou tosco, muito pelo contrário. Se for assistido com a cabeça e o coração abertos se torna uma experiência extremamente positiva para qualquer idade.


Diários de intercâmbio é a história de uma garota que tem o sonho de viajar o mundo, mas não tem dinheiro pra isso e, pelo título, é evidente que ela consegue, mas a forma me surpreendeu muito. Geralmente, esse tipo de filme tem poucos conflitos e as coisas vão dando certo naturalmente, Diários de Intercâmbio parece que brinca com isso, pois sempre algo atrapalha a protagonista num efeito bola de neve. Durante toda a obra, viradas e quebras de expectativas acontecem, dessa forma o filme é em sua totalidade dinâmico, divertido e empolgante. Toda vez que eu achava que não teriam mais surpresas, uma coisa nova acontecia. O filme abusa de um humor exagerado, de situações irreais e estranhas, o que é comum nos filmes brasileiros e realmente me agrada muito, o filme não tem a pretensão de parecer realista e assume isso, portanto não vi em momento nenhum como um fator negativo, muito pelo contrário.


As atuações das duas personagens principais estão excepcionais, Thati Lopes ficou muito bem de Talia, eu fiquei muito feliz que ela finalmente recebeu uma personagem decente, porque é uma excelente atriz. A amizade das duas é muito divertida, além da narrativa ter seus momentos cômicos, as personagens, principalmente Talia, são engraçadas em quase todas as cenas. Além disso, Larissa Manoela mostra mais evolução como atriz a cada filme em que participa, olho nela, tem tudo para construir uma carreira incrível. Entretanto eu ainda penso que ela precisa de um papel em um estilo de filme diferente, o que permitiria mostrar todo seu potencial.


Obviamente, não poderia faltar um casal nesse tipo de filme e, sinceramente, eu achei o casal muito bem construído, mas para falar disso vou precisar dar alguns spoilers. Achei extremamente inteligente do filme apresentar um casal xoxo e sem graça para depois desfazê-lo com um muito melhor. Além de Brad ser gringo e muito sem graça, a construção de Bárbara e Lucas foi infinitamente melhor. Mais um fato que me surpreendeu, é raro eu simpatizar com casais desse tipo de filme, eles são divertidos e apresentam momentos fofos juntos também, funciona.


Por fim, queria comentar sobre a mensagem extremamente madura do filme, a maioria das personagens apresentaram um crescimento sobrenatural ao decorrer da obra e todos aprenderam e evoluíram. No início parecia que o filme não teria a menor pretensão de tentar ensinar alguma coisa para seu espectador jovem, que seria só uma garota fútil passando férias e se divertindo fora do país. Mas o filme mostra uma jovem que luta muito e sempre corre atrás dos seus sonhos, mesmo não tendo muita condição. Ao final, ela não escolhe ficar fora do país, vivendo o sonho americano, ou o namorado, ela escolhe continuar perseguindo o sonho dela, sem influência de nenhuma das outras personagens que passaram pela sua trajetória. Essa é uma mensagem muito importante para o público jovem que assiste o filme só por causa de Larissa. Ao final, ela diz que independente do que ela queria, ela se arriscou e lutou pela sua causa, em momento nenhum aceitou as condições impostas a ela, isso é importantíssimo. O filme não quis se acomodar em futilidades e facilidades narrativas, isso me agradou muito.


Antes de concluir a análise, queria comentar um ponto que me incomodou: repetições. É uma prática que parece registrada em filmes adolescentes brasileiros, personagens, principalmente nas cenas iniciais, repetem frases várias vezes, isso irrita. Geralmente, é porque a frase vai ser importante no decorrer do filme ou para que o espectador grave a personalidade da personagem. Eu refleti muito sobre isso nesse filme e decidi dar uma colher de chá por dois motivos, primeiramente porque foi feito de um jeito cômico, o outro é porque talvez tenha sido proposital. O filme nos minutos iniciais parece tentar enganar seu espectador sobre o que ele vai assistir, os personagens parecem ser fúteis e repetitivos, entretanto no final estão mudados, com muito mais repertório, isso definitivamente parece ter sido proposital. Decidi não deixar esse fato interferir na nota, mas mesmo assim é um fator que sempre incomoda por parecer falta de criatividade na criação da personagem. Outra repetição constante é musical, tem umas duas músicas que tocam umas 10 vezes no filme, seja da boca de algum personagem ou como trilha, faz parte da trajetória de um dos personagens, mas cansa em certo ponto.


Antes de dar essa nota eu refleti muito se realmente deveria, mas simplesmente não tem como ser diferente, o filme cumpre sua função e ainda faz mais do que isso. Apresenta uma história divertida, um casal interessante, uma jornada diferente do habitual e uma mensagem importante para seu público. Além do que a cena final foi uma das cenas mais sem sentido e divertidas que eu já vi. É minha primeira nota 5, mas definitivamente não é meu filme favorito, só acho que seria injusto da minha parte, fazendo uma análise racional, dar menos do que isso. Precisam ser considerados pontos além do meu gosto fílmico, Diário de Intercâmbio conseguiu entregar muita diversão, não se acomodou, conversou bem com seu público e ainda passou uma mensagem importante. Nota máxima.


Nota: 5/5 Lágrimas

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