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Violência e coração preenchem espetáculo de James Gunn

Crítica: O Esquadrão Suicida (2021)

Gustavo Fernandes


Em 2016, Esquadrão Suicida surgiu como um dos projetos mais ambiciosos da carreira de David Ayer. Sem saber qual rumo gostaria de tomar, o filme não chegou a lugar algum, soando mais como uma colcha de retalhos da Warner Bros. do que uma obra detentora de alguma assinatura de fato. Isso não é novidade dentro do segmento de super-heróis, afinal, grande parte da franquia advinda da Marvel Studios carece de assinatura e coração genuíno. Na contramão dos enlatados produzidos por Kevin Feige, no entanto, Esquadrão Suicida não somente carece de pulso autoral, como também tenta empregar muita coisa por meio de uma linguagem dinâmica que não leva a lugar algum.


O encontro de James Gunn com a equipe de super vilões não é fruto do acaso, afinal, a obra do diretor dialoga diretamente com a essência dos personagens desajustados da DC Comics. Era questão de tempo até a irreverência de Gunn tocar a equipe que teve estreia nos cinemas por meio das lentes de Ayer. E o resultado é, felizmente, bem próximo do que eu esperava que fosse. Se em Guardiões da Galáxia a patetice característica de Gunn soa deslocada por ser limitada pela necessidade de dialogar com um público mais amplo, em O Esquadrão Suicida o diretor consegue empregar sua linguagem com a permissividade que sua essência exige.


A acidez comedida de Guardiões de Galáxia ganha campo aberto para fluir com força em O Esquadrão Suicida. O humor de Gunn assume o ridículo de seus personagens e seus contextos, e faz uso gracioso da violência escrachada como atributo cômico característico. Tudo o que enxergo como potencial pouco aproveitado na franquia de Gunn dentro da Marvel Studios, vejo como ponto positivo em sua possível nova franquia dentro da DC. O enredo do filme dialoga diretamente com a questão de “ser anti-herói”, subvertendo papéis aparentemente bem definidos em alguns momentos e utilizando até o patriotismo estadunidense como pauta duvidosa.


A violência, inclusive, possui papel fundamental na construção identitária de O Esquadrão Suicida. Sim, o filme é repleto de sangue jorrando, cabeças explodindo, partes do corpo sendo decepadas e tudo isso é irreverente dentro da estrutura proposta por Gunn. Não trata-se de um filme cheio de sequências de lutas minuciosamente coreografadas e ricas em diversos movimentos tais como as de Aves de Rapina, pois o foco aqui acaba sendo a violência de forma mais direta e franca. Apesar de não ter tantas sequências de lutas, o filme entrega alguns excelentes momentos de ação, que culminam num clímax extremamente estimulante envolvendo o trabalho da equipe.


O time de super vilões, inclusive, ganha um tratamento consideravelmente terno considerando sua dimensão coletiva. A dinâmica de equipe é bem trabalhada por Gunn, assim como a individual de alguns de seus personagens. Certamente, não há espaço para aprofundamento de todos os diversos personagens, mas acredito que o foco é bem distribuído na medida do possível, o que é contribuído pela interpretação competente do elenco. Diria que os maiores papéis dentro de O Esquadrão Suicida são os de Margot Robbie, Viola Davis, Idris Elba e Daniela Melchior. Os personagens dos atores citados possuem certa densidade e entregam momentos genuinamente espirituosos dentro do filme. Os momentos de maior carga dramática, no entanto, poderiam ter mais força dentro da estrutura de Gunn. A trilha sonora de John Murphy possui bons momentos, mas nem sempre parecem acompanhar a gradação atmosférica do filme.


Liberdade criativa dentro de grandes estúdios hollywoodianos ainda é uma pauta difícil hoje em dia. 2021 certamente já é um ano extremamente importante para o avanço de autoria dentro de alguns estúdios - principalmente a Warner Bros. -, haja vista os lançamentos dos mais que competentes Liga da Justiça de Zack Snyder e O Esquadrão Suicida - ambos obras que reiteram a necessidade de identidade frente a demanda industrial. Espero profundamente que o filme de Gunn seja um marco positivo dentro do gênero, e que seja um fator motivador para que os estúdios permitam maior experimentação e autoria dentro de suas franquias bilionárias.


Nota: 4/5 Lágrimas

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