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The World to Come

Crítica: The World to Come (2020)

Gustavo Fernandes


A crescente paixão entre duas mulheres comprometidas é, superficialmente falando, a espinha dorsal de The World to Come. O que Mona Fastvold propõe em seu filme, no entanto, vai além do destrinchamento da progressiva redenção ao amor. Mais importante para o filme do que o processo que constitui a jornada romântica, é o que ela significa para suas personagens - em especial para sua protagonista, brilhantemente encarnada por Katherine Waterston.


O enredo acompanha dois casais distintos vivendo em condições distintas. Tallie (Vanessa Kirby) é casada com Finney (Christopher Abbot), e vivencia uma relação problemática com ele. Abigail (Katherine Waterston) é casada com Dyer (Casey Affleck) e vivencia uma relação morna cuja chama aparentemente foi apagada após a morte da filha. O filme acompanha a perspectiva de Abigail durante boa parte da narrativa, e tem justamente seu luto como principal pano de fundo. Através desse arco, o longa busca estabelecer seus personagens, suas relações e, principalmente, distingui-las. O que conecta Tallie e Abigail é o desejo, a paixão. Como cada uma lida com esse sentimento no decorrer da trama, no entanto, acaba sendo bem diferente justamente devido às circunstâncias distintas em que ambas as personagens estão inseridas.


A diretora permite que o longa seja algo muito mais próximo de uma busca por satisfação emocional genuína do que necessariamente sobre uma relação “proibida”. Evidentemente, o filme aborda o desenrolar do relacionamento entre as duas personagens e toma isso como seu fio condutor, mas a forma como Fastvold conduz sua narrativa acaba ampliando consideravelmente as possibilidades interpretativas da obra no geral. É interessante como a protagonista de Waterston é simplesmente uma mulher angustiada sem necessariamente sofrer alguma forma de opressão direta por seu marido. Ou seja, o maior antagonista de Abigail é a própria vida e sua transitoriedade inevitável.


Ao término das duas horas de projeção, The World to Come ressoa no coração do público como um exemplar de convite à resignação, cuja roupagem em alguns momentos soa tão sombria quanto poética. Afinal, trata-se de um filme sobre descobertas e desfrute do momento - e também de sua finitude, no fim das contas. O longa de Mona Fastvold é potente ao conferir uma unidade tão consideravelmente obscura a um enredo de tamanha singeleza cujo coração é o que há de mais natural na existência humana: a transitoriedade inevitável.


Nota: 4/5 Lágrimas


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