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Relacionável, sensível e o melhor coming of age do ano.

Crítica: Shithouse (2020)

Arthur Pereira


Shithouse (2020) é um filme independente norte-americano com o micro orçamento de 15 mil dólares. O longa combina comédia, romance e drama, apresentando o personagem Alex – interpretado pelo próprio diretor, roteirista e editor da obra Cooper Raiff –, um jovem adulto calouro que sofre para se adaptar ao ambiente da faculdade, um microcosmos muito distante física, geográfica e simbolicamente daquele familiar que pertenceu a vida toda.


A história claramente biográfica de um período bem específico da vida do cineasta é apresentada de forma bem articulada, sincera e de fácil identificação. É possível perceber o amadurecimento mesmo durante a própria rodagem, com autor e obra se fundindo, deixando a reflexão do quanto nos entregamos às novas realidades adversas e como enfrentá-las. A solidão inicial devido a negação da nova realidade esbarra nas novas amizades que possibilitam o real sentimento de pertencimento. É importante ressaltar que aqui o protagonista introvertido e sensível não segue a jornada de festas megalomaníacas americanas, bebedeira e polícia normalmente apresentada em filmes desse gênero.


É possível enxergar, em alguns momentos, a linguagem de outros cineastas, como Richard Linklater; entretanto Cooper constrói uma identidade própria, guiando o tom do filme (que decorre na maior parte durante 48 horas) com maestria. Tanto as relações afetivas da esfera familiar quanto as relações românticas da esfera universitária são muito bem construídas e relacionáveis. Algumas cenas emocionalmente agressivas perpassam por momentos leves com referências à cultura pop e diversas boas piadas, fazendo rir mais do que grande parte das comédias do ano.


É possível notar o carinho do realizador do filme, tendo uma atuação muito competente como protagonista da história. Dylan Gelula tem uma performance interessante dando vida à Maggie, uma personagem que transparece muito realismo e autenticidade, mas com um subtexto de dificuldades que poderiam ser ainda melhor aproveitadas pelo roteiro. Logan Miller também está ótimo interpretando o colega de quarto de Alex.


Assim, mesmo com as falhas comuns na produção de um primeiro longa-metragem e limitações orçamentárias, aqui está um dos melhores filmes de 2020. Um texto inteligente, performances relacionáveis, muita competência em todas as áreas técnicas e uma direção que entende perfeitamente a obra que está sendo criada. O espectador é imerso no ambiente coming of age genuíno, com momentos constrangedores e extremamente comoventes. Shithouse é com certeza um filme a ser visto diversas vezes e, com o sucesso de crítica, Cooper Raiff deve ter um grande futuro na indústria, sendo um nome para estar atento. Estou curioso para o que vem por aí.

Nota: 4 Lágrimas


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