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Quando uma thread do Twitter transforma-se em filme

Atualizado: 16 de ago. de 2021

Crítica: Zola (2021)

Arthur Pereira


O longa dirigido por Janicza Bravo e distribuído nos Estados Unidos pela A24 me gerou reações mistas durante os 86 minutos de rodagem, alternando entre um primeiro ato inconstante, momentos brilhantes e um terceiro ato frenético que encerra em um final anticlimático. O filme baseia-se em um artigo de David Kushner a respeito de uma sequência de 148 tweets que apresentam uma saga de uma stripper e garçonete que é convencida por uma nova amiga a viajar para Tampa, Flórida, para ganhar dinheiro. Entretanto, essa jornada de 48 horas inicialmente de dança e festa escalam para novos conflitos culminando em um conto absurdista, bizarro e selvagem.


Nessa conversão da saga escrita viral com caracteres limitados para o objeto cinematográfico, o humor ácido - através, principalmente, do uso de cortes inesperados na montagem, silêncio e narrações em off de Zola comentando as situações apresentadas para o espectador - se sobressai e o longa possui momentos muito divertidos. Diversos recursos do mundo digital são incorporados na narrativa, como a estilização do título do longa (@zola), a edição de Joi McMillon que utiliza de artifícios estéticos das redes sociais e a linguagem verbal utilizada que é semelhante a dos tweets que inspiraram o longa. Ademais, a trilha sonora do extraordinário Mica Levi (também responsável pela trilha de Under The Skin e Jackie) é imersiva e a fotografia em 16 mm de Ari Wegner entrega belíssimas cenas utilizando espelhos e experimentações das perspectivas das imagens que são muito interessantes.


É possível estabelecer paralelos com as paletas de cores e questões trabalhadas nas obras de Sean Baker e Harmony Korine. O filme é curto e possui um ritmo rápido que com certeza desperta muitas sensações no espectador. Entretanto, ele perde força no drama pouco aprofundado que envolve temáticas sérias e complexas (como a rede de prostituição), que ao menos é sustentado pelas boas atuações, e na falta de inventividade durante a maior parte da produção, que segue apenas a linha cronológica dos eventos apresentados na thread.


Assim, o longa de Janicza Bravo possui momentos admiráveis justamente quando toma liberdades estéticas e narrativas, como a exposição de personalidade dos personagens através da cor da urina e a pequena fuga da narrativa no encaminhamento para o terceiro ato, mas o filme como um todo parece um pouco deslocado e fora do controle. O final com certeza será divisivo devido ao aspecto repentino, porém, ao final dos créditos a potência e a apreensão ressoam em um filme divertido, brutal, trágico e que vale a pena ser assistido


Nota: 3.5/5 Lágrimas


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