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O lado negligenciado do julgamento

Crítica: Judas e o Messias Negro (2021)

Marco Souza


Judas e o Messias Negro (2021) é o título do mais novo drama histórico da Warner Bros, que por alguma razão escondeu o longa da temporada de festivais de forma similar a como Os Sete de Chicago (2020) tentou esconder a real relevância de Fred Hampton no cenário político da Chicago dos anos 60. Mas pelo lado positivo, pelo menos o filme deve vir incluído na HBO Max em Junho! Dirigido, escrito e produzido pelo recém-descoberto Shaka King, Judas é um daqueles filmes que fazem nós, os Cinéfilos, babar em todos os aspectos técnicos de um filme. Se você é facilmente engajado por uma fotografia bonita e alguns planos não convencionais, já posso adiantar que esse filme é pra você!


Em questões do contexto histórico, Judas nunca mastiga a narrativa para que a audiência seja capaz de entender tudo com facilidade. Temos claras referências literais à momentos históricos de tensão racial nos Estados Unidos durante as décadas de 60 e 70, mas no caso desse período não ser sua especialidade (o que é completamente justificável porque nós já temos cultura estadunidense demais pra conhecer), eu fortemente recomendo um pouco de pesquisa prévia, seja vendo o já mencionado Os Sete de Chicago, ou até a série Lovecraft Country (2020), que aborda um pouco do caso de Emmett Till, também mencionado em Judas.


Tecnicamente falando, Judas é de fato um projeto de dar inveja em qualquer pessoa que trabalha com o audiovisual. Desde a direção de arte em tons de vermelho e verde que quase nunca deixam a tela, até a edição, que cria um ritmo rápido e engajador que nunca cessa, tudo a respeito do trabalho técnico e artístico do filme é primoroso. Mas ainda assim, o maior atrativo e definitivamente o maior ponto positivo do filme são as atuações.


A dupla Daniel Kaluuya e Lakeith Stanfield podia estar maravilhosa em Corra! (2017), mas em Judas e o Messias Negro, ambos entregam atuações que não são apenas boas, mas completamente naturais e acreditáveis. Em nenhum momento do filme você não acredita que Kaluuya é o sagaz líder militante Fred Hampton, ou que Stanfield se sente completamente dividido ao estar na mesma situação de agente duplo de Bill O’Neal. E o show de atuações também facilmente se estende a Jesse Plemons e Dominique Fishback, todos que adicionam mais pontos de vista à uma narrativa já tão rica em discussão. Em um mundo perfeito, Kaluuya e Stanfield concorreriam por Melhor Ator e Plemons por Coadjuvante, mas a esse ponto nós já sabemos o quão falhas essas definições são em Hollywood quando se quer um Oscar.


Embora Judas seja capaz de retratar quatro personagens ricas em personalidade e com perspectivas diferenciadas quanto ao papel do preto na sociedade, e o que se deve fazer para melhorar tal, o roteiro do longa certamente falha em questão das narrativas secundárias que foca por breves minutos. Indivíduos como Jimmy Palmer (Ashton Sanders) e Jake Winters (Algee Smith) são introduzidos muito bruscamente como protagonistas de suas respectivas cenas de impacto, enquanto previamente eram tratados como meros figurantes pela própria trama. Sim, o que acontece com ambos é terrível e ilustra com clareza a injustiça e indignação que Hampton tinha razão em sentir, mas como audiência, é difícil sentir algo profundo por apenas nomes e figuras, e não de fato pessoas.


De todos os longas dessa temporada de premiações que retratam a questão do homem preto nos Estados Unidos, acho que Judas é de longe o que faz o melhor trabalho como um produto finalizado para ser consumido, tendo Uma Noite em Miami (2020) como um honorável segundo lugar, mas ainda muito longe do primeiro. Comparações com Os Sete de Chicago vão ser inevitáveis por conta de suas temáticas que se entrelaçam, mas pessoalmente julgo que a união de ambos não faz mais do que adicionar à experiência do outro, são filmes perfeitos para uma dobradinha. E sim, com isso eu talvez esteja falando que nenhum dos dois é minha escolha pra Melhor Filme no Oscar, mas esse diálogo é um que apenas serei capaz de concluir em Abril. Tá aí a dica pra vocês.


De qualquer modo, Judas e o Messias Negro nos apresenta uma história forte, com uma realização mais forte ainda. Shaka King dificilmente vai ser reconhecido esse ano (e as outras categorias técnicas infelizmente muito menos), mas minha torcida por Daniel Kaluuya segue forte e se Deus, Jesus ou Judas quiser, ela não será em vão.


Então, a moral da história é: nunca deixe seu trabalho para ser entregue logo antes da data final.


Nota: 4/5 Lágrimas


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