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O estressante e imediatamente cativante longa de estreia de Emma Seligman

Crítica: Shiva Baby (2020)

Arthur Pereira


Shiva Baby (2020) conta a história de Danielle, interpretada brilhantemente por Rachel Sennott, uma jovem bissexual ainda indecisa sobre qual carreira profissional seguir. O subtexto da pressão familiar que leva a protagonista a encontrar maneiras alternativas de ganhar dinheiro desaba em um microcosmos em que se passa toda a história: um funeral com muitos familiares, conhecidos e perguntas sobre a vida pessoal - ambiente suscetível a diversos momentos constrangedores.


O coming of age e debut de Emma Seligman é despretensioso, leve, crítico, divertido e caótico; sendo que o desenvolvimento da narrativa, dos personagens, da geografia e da coreografia dentro de um cenário único em que se passa a maior parte do filme é conduzido com maestria pela diretora, também responsável pelo excepcional texto com diálogos muito bem escritos. O humor e a tensão são equilibrados perfeitamente e a câmera na mão de Maria Rusche auxilia impecavelmente na vitalidade e dinâmica da narrativa, que explora de maneira inteligente e crítica a forma como a bissexualidade é vista pela sociedade. Ademais, a trilha sonora discordante e áspera de Ariel Marx exponencializa a angústia, agonia, incômodo e claustrofobia do longa.


Entretanto, mesmo com a curta duração de 77 minutos, nem tudo se justifica ou é traduzido de forma ideal no processo de extensão da narrativa, já que o longa é baseado no curta-metragem homônimo de oito minutos dirigido pela mesma diretora. O filme nunca cai em um momento de completa monotonia devido à direção enérgica, mas também parece nunca atingir o ritmo para imersão total ou o verdadeiro potencial temático do ponto de partida. Porém, que bom que a tentativa de explorar o argumento inicial foi realizada, porque o longa de Seligman é um dos melhores filmes de baixo orçamento (custou apenas 225 mil dólares) da última temporada.


É possível perceber a simpatia e o afeto que a diretora possui pela protagonista, e essa autenticidade, aliada ao texto inventivo e as atuações impecáveis, sustentam todo filme. A ansiedade e as risadas se misturam aos diversos recursos do cinema de horror e ocasionais paródias, em um velório judaico. Shiva Baby poderia ter uma abordagem mais perspicaz e sutil para torná-lo ainda mais envolvente, acessível e atemporal. Porém, após a divertida cena final e os créditos finais, o que resta é a curiosidade de acompanhar os próximos projetos e personagens criados pela talentosa diretora. O filme está disponível na plataforma Mubi.


Nota: 4/5 Lágrimas

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