Crítica : Ratched (2019-)
Raiana Viana
A nova série da Netflix, Ratched (2019), apresenta uma história de origem para Mildred Ratched, a enfermeira vilã do filme Um Estranho no Ninho (1975). Criada por Ryan Murphy e Evan Romasky, a série entrega um belíssimo visual - talvez uma das produções televisivas mais bonitas dos últimos anos – porém a história sem sentido e desnecessária derruba qualquer interesse pelo caminho que foi trilhado pela personagem.
Não só a série se propõe a apresentar uma história desnecessária de origem de Mildred, como também não é capaz de fazê-la decentemente. Parece que os criadores não entenderam quem é Mildred Ratched ou como levá-la a ser quem já conhecemos do filme e do livro. A personagem simplesmente não funciona, assim como a série! A Ratched da primeira temporada da série, no geral, não tem nada da Ratched da obra original e funcionaria melhor se fosse qualquer outra enfermeira sociopata. Além disso, a série não sabe que tipo de Ratched quer entregar: se é a enfermeira com um passado sofrido, que o espectador deve ter empatia e entender seus crimes ou se é uma mulher cruel e sádica, que deveria causar repulsa nos espectadores. E mesmo que a intenção seja passar as várias faces da personagem, não há uma boa estrutura de roteiro para amparar essa articulação. Essas falhas prejudicam a série, pois não há um enredo coerente e interessante para a personagem principal e, consequentemente, para a série toda.
As atuações, junto da estética, são os pontos altos da série. A atriz Sarah Paulson está, como sempre, incrível. Apesar da bagunça que é a personagem no papel, Paulson consegue entregar as diversas faces de Ratched e, provavelmente, receberá várias indicações pelo papel. Da mesma forma, temos Judy Davis, que interpreta a enfermeira Bucket, personagem que por mais amargurada seja, Davis transforma Bucket na mais radiante de toda a série. Já a estética da série é seu melhor elemento, com design de produção e fotografia incríveis, apresenta uma estética já bem conhecida dos trabalhos de Ryan Murphy. Ratched, visualmente, é uma construção riquíssima de cores fortes, figurinos impressionantes e molduras fascinantes dentro da aura do “body horror”.
Murphy pode ser entendido como o grande responsável pelos acertos (Paulson e estética) e erros da série. Ratched parece mais uma nova temporada de American Horror Story (AHS), do que uma série nova. Uma temporada ruim, claro. Que além da estética de AHS, traz também a incoerência do enredo e os momentos impactantes de muito sangue e cenas explícitas. Claro que junto da estética, essas cenas impactantes são, em partes, um acerto. Porém, depois de tantas temporadas de AHS, há momentos em Ratched que deixam no ar um sentimento de exagero.
Após os oito episódios da primeira temporada (a segunda já está confirmada), o que fica é um enredo bobo e sem sentido, que vive de pequenos momentos perturbadores e que luta pra se manter interessante através de um visual extremamente atraente, mas que não é o suficiente.
Nota: 2/5 Lágrimas
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