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Muito além do silêncio, a angústia frente à adversidade em um dos dramas mais fortes de 2020

Crítica: Sound of Metal (2020)

Arthur Pereira


O longa-metragem disponível no serviço de streaming do Prime Video, teve a primeira exibição em 2019 para o público do Festival Internacional de Cinema de Toronto e desde lá tem ganhado muitos elogios, principalmente pelo roteiro afinado e forte. Grandes histórias podem ser resumidas em uma frase curta. Aqui, um baterista começa a perder a audição rapidamente. Durante toda a rodagem o filme coloca o espectador para refletir o que faria se tivesse no lugar do protagonista impossibilitado de fazer aquilo que ama: combateria a condição ou escolheria o caminho da auto aceitação.


A direção do diretor norte-americano estreante Darius Marder é segura, realista (utilizando câmera na mão com movimentos suaves, num estilo que remete ao documental) e sutil, sem tornar-se agressiva ou manipulativa, como ocorre em muitos dramas com trajetórias de sofrimento e superação que não passam de melodramas pedantes. O ritmo do filme é mais lento, porém, através de contrastes fortes, varia muito bem entre os momentos de explosão, desorientação e estresse, e a redução do volume desacelerando até adentrar no vazio. O roteiro com diálogos realistas, apresenta um estudo de personagem íntimo e pessoal, construindo um protagonista relacionável.


A performance de Riz Ahmed (Nightcrawler, Rogue One) é impecável, carregando a grande história do filme com maestria; uma indicação para melhor ator no Oscar seria justíssima, porém improvável. Olivia Cooke e Lauren Ridloff também entregam grandes atuações que são reforçadas pela montagem dinâmica, utilizando bastante de jump cuts (recurso de transição mais bruta), fugindo de clichês.


Ademais, as experimentações realizadas com o áudio são parte essencial da obra. O completo silêncio, as vozes abafadas e os ruídos incompreensíveis colocam o público literalmente dentro da cabeça de Ruben, transmitindo a agonia sentida pelo personagem principal. Também é interessante ressaltar a produção e utilização de músicas originais de qualidade altíssima e com letras vinculadas conceitualmente à narrativa.


Das subtramas apresentadas no filme, o relacionamento amoroso é o único arco bem construído. O vício em drogas durante o passado do protagonista é usado como forma de fortalecer o vínculo entre Ruben e Lou, mas não possui nenhum tipo de desenvolvimento ou importância narrativa – não há recaídas ou reflexões sobre a adicção – durante todo o filme. Já a tentativa de contato com outras pessoas na comunidade surda proporciona momentos lindíssimos (inclusive algumas das melhores cenas do longa), entretanto o texto descarta com facilidade diversos desses personagens com certa importância em alguns momentos específicos da história, que são simplesmente esquecidos de forma trivial.


Diante disso, Sound of Metal – em tradução livre: “som do metal”, e não como a compreensível, mas péssima tradução brasileira que nomeou o longa como “O Som do Silêncio”, tirando a ambiguidade sutil apresentada durante a trama no nome original – exterioriza um posicionamento claro e humano sobre a comunidade, mesmo sem se aprofundar muito na temática. O final agridoce e sugestivo remete a cena de maior carga emocional do longa (com a ótima performance do ator reconhecido por programas televisivos Paul Raci) fechando uma experiência de duas horas angustiante e notável com a reflexão: entre tudo que importa em nossas vidas, na rotina agitada e sem a percepção dos pequenos detalhes a nossa volta, qual foi a última vez que tivemos um momento de tranquilidade?


Nota: 4,5/5 Lágrimas


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