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Little Women - os erros e acertos de duas abordagens

Atualizado: 18 de jul. de 2020

Crítica: Little Women (1994 e 2019)

Caio Scovino


Mulherzinhas”, publicado em 1868 pela autora Louisa May Alcott, narra de forma virtuosamente concebida as experiências autobiográficas da autora de forma tão sensível e tangível que se torna fascinante. O tratamento de cada personagem na narrativa foi feito de forma imprescindível, fazendo com que o livro se tornasse um sucesso instantâneo, rendendo duas continuações e diversas adaptações para as mais diversas mídias.


Em 1994, é lançada a quarta adaptação do romance, uma versão dirigida por Gillian Armstrong, cineasta australiana que tem sua filmografia voltada para documentários e filmes de época, que em sua maioria constam com protagonistas femininas. O filme foi aclamado pela crítica por sua abordagem sensível e singela, o que não era comum para filmes de estúdio. Além de render três indicações ao Oscar (melhor atriz para Winona Ryder, melhor figurino para Colleen Atwood e melhor trilha sonora para Thomas Newman) e ser um sucesso de bilheteria, arrecadando mais de 50 milhões de dólares.


As maiores virtudes da obra vêm em razão da sensibilidade da direção, do entrosamento do elenco, das escolhas narrativas e do tom criado. Todo o arranjo visual e auditivo da obra se complementa, evocando a realidade fabulosa do tom do romance original, o que impulsiona a narrativa de modo a nunca soar fraca ou perder ritmo. A reconstituição de época é belíssima com uma bela ênfase no figurino, onde pequenos aspectos como as irmãs mais novas reutilizando peças das mais velhas e as pessoas mais idosas utilizando roupas antiquadas nas festas dão um charme a mais em toda a produção. Todo o elenco se encontra em ponto, com uma ótima química, especialmente Susan Sarandom, que transborda o incondicional amor materno, porém de morais antiquadas.


Em 2019, Greta Gerwig lança uma nova adaptação da trama. A atriz e cineasta que despontou em filmes como Frances Ha e Lady Bird, apresenta uma versão supostamente reformulada das anteriores, traduzida agora no Brasil como “Adoráveis Mulheres”. Com sua experiência em narrativas que trabalham os aspectos da independência feminina, assim como as relações humanas atuais, a obra carrega traços de seus trabalhos anteriores. Traços esses que vão de encontro com os ideais originais do livro.


Em revisões críticas atuais, a moral proposta no romance original, apesar de ser libertária para a época, hoje já se vê revista e datada, em âmbitos como a repressão por idealismos de pecados capitais e a idealização da necessidade do casamento para a completude da felicidade feminina. Ao aplicar uma abordagem atual nas interações e personalidade das personagens do romance, pequenas incongruências vêm à tona e fragilizam a estrutura narrativa. Junto disso, um figurino mal concebido pela talentosa Jacqueline Durran, que apesar de ter recebido o Oscar pelo trabalho nessa obra (o único dessa adaptação), desvia de uma reconstituição de época coerente e produz desvios que prejudicam uma análise profunda do mesmo. A trilha sonora do saturado Alexander Desplat não surte efeito algum ao tentar acrescentar dramaticidade ao enredo. Somando tais aspectos, sobra uma direção que tenta trazer novos ares à uma história clássica que não consegue atingir os efeitos planejados por não executar conceitos coerentes com o que tenta fazer. O filme não é uma releitura, muito menos é completamente fiel, o que faz que o mesmo caia em um vale de uma construção medíocre que falha em evocar a fantasia do cotidiano que foi capaz de tornar o romance original um clássico.


No campo das atuações, se vê pouca distinção entre as personalidades das irmãs e decisões de elenco, como manter atrizes com o dobro da idade das personagens interpretando crianças, atrapalhando no entrosamento familiar presente na história.


Ao comparar ambas as adaptações, temos uma concisa e bem executada (1994), e uma bem-intencionada em aplicar conceitos revisionistas importantíssimos, mas que falha no que tenta se aproximar do material base (2019).


Apesar de muito bem recebido pela crítica e público (indicado a seis Oscars e ironicamente vencendo “melhor figurino”), Adoráveis Mulheres (2019) peca ao apresentar uma obra mal concebida e executada, sem explorar o potencial da trama. Já Mulherzinhas (1994), ao se ater em reproduzir fielmente o original, consegue expor uma obra coesa e belíssima em todos seus campos audiovisuais.


ADORÁVEIS MULHERES (2019) -> 2/5 LÁGRIMAS



MULHERZINHAS (1994) -> 5/5 LÁGRIMAS


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