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Lenda Urbana: Entretenimento Garantido - e isso basta

Crítica: Lenda Urbana

Gustavo Fernandes


Em 1996, Pânico deu início a uma nova e frutífera safra de slashers - gênero enfraquecido desde o final dos anos 1980. O enfraquecimento do terror adolescente ocorreu devido ao aparente esgotamento da fórmula estabelecida por John Carpenter em Halloween (1978), tendo sido reutilizada incansavelmente ao longo dos anos seguintes. Pode-se dizer que o mesmo ocorreu após o sucesso do filme de Wes Craven, com a ressurreição de um subgênero já saturado entre os fãs do cinema de terror. Nesse contexto, surge Lenda Urbana (1998), propondo explorar o medo provocado pelas histórias que, geralmente, aconteceram com o conhecido de um primo ou de um amigo não tão próximo.


A trama é assinada por Silvio Horta e acompanha a estudante Natalie (Alicia Witt) tendo de lidar com o medo crescente diante de uma série de assassinatos na universidade onde estuda. A peculiaridade dos homicídios está na nítida inspiração do assassino em conhecidas lendas urbanas. Além disso, a jovem tem de enfrentar a censura promovida pela reitoria da instituição, que objetiva atenuar o pânico e prevenir o caos advindo das mortes no campus. A interação entre passado e presente passa a ser cada vez mais frequente ao longo do filme, implicando que o assassino é alguém ciente de eventos pretéritos envolvendo os personagens em processo de abatimento.


Diversos conhecidos arquétipos do subgênero compõem a teia a ser rasgada pelo assassino por trás da máscara - que, já deixo claro, não é uma máscara, e sim uma jaqueta felpuda com a incrível habilidade de ocultar por completo a face do homicida independentemente da iluminação incidente. É delicioso acompanhar a contagem de corpos e as instigantes perseguições - por mais estúpidas que sejam, no fim das contas. Devo citar, inclusive, que o filme conta com uma das mais divertidas e emblemáticas sequências de abertura que tive a chance de conferir num filme do gênero. O elenco carismático segura a atenção e conquista a empatia do público, contando com nomes como Jared Leto em início de carreira e uma emblemática participação de Robert Englund. A direção de Jamie Blanks, embalada pela funcional trilha sonora de Christopher Young, é ágil e envolvente, sem necessidade de propor invenções de linguagem. A pretensão fica a cargo do texto de Silvio Horta, responsável pelos momentos mais mirabolantes e inverossímeis do longa - embora isso não incomode tanto, afinal, o que esperar de um slasher noventista?


Um traço comum entre diversos títulos de slasher é a ideia de que a resposta para os assassinatos em curso está no passado, geralmente conectando os eventos do presente a algo ocorrido anos antes, muitas vezes envolvendo os pais ou outros familiares dos protagonistas. Em Pânico e suas sequências não é diferente, haja vista a frequentemente requentada trama envolvendo o assassinato da mãe da protagonista Sidney Prescott (Neve Campbell). Em Lenda Urbana também não é diferente: já no primeiro ato o espectador tem ciência de um massacre ocorrido vinte anos antes logo ali num dos prédios da universidade. Talvez o maior equívoco do filme seja justamente a necessidade de encontrar um alicerce suficientemente consistente e chocante para a revelação do assassino - que ocorre nos últimos vinte minutos de projeção e já é, por si só, surpreendente. A motivação, no entanto, pode deixar a desejar ao público mais exigente, justamente quando tentamos encontrar respaldo para a jornada do vilão.


Não é novidade que o cinema de terror e suas vertentes sofrem, desde sempre, subestimação por grande parte da crítica especializada. A represália é ainda mais forte quando direcionada a filmes lançados imediatamente após obras grandiosas com propostas minimamente disruptivas e que provocam certos abalos sísmicos dentro de seus gêneros e campos temáticos. Lenda Urbana é um título que, inegavelmente, sofreu com a pressão de ter sido lançado imediatamente após dois inteligentíssimos filmes da franquia de Wes Craven. Na contramão dos longas da cultuada saga, no entanto, o filme de Jamie Blanks não objetiva nenhum trabalho com metalinguagem, simplesmente assumindo - e cumprindo - o papel de entretenimento ideal para uma sexta à noite.

Nota: 4/5 Lágrimas


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