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Enola Holmes: Otesdin eus Quebus

Crítica: Enola Holmes (2020)

Julia Alfa


Não, o título não está em latim. É só um anagrama.


O filme da irmã caçula de Sherlock, Enola Holmes, estreou em setembro de 2020 na Netflix e adquiriu grande repercussão. A história é baseada no livro “Os Mistérios de Enola Holmes”, de Nancy Springer, que nos entrega uma narrativa posterior aos contos de Arthur Conan Doyle - o criador da família Holmes.


No filme, a interpretação de Sherlock por Henry Cavill diverge das versões tão queridas do personagem já conhecido pelas faces de Robert Downey Jr. e Benedict Cumberbatch: Holmes do filme de 2020 tem sentimentos. Os fãs estranharam, mas os leitores dos livros já estavam preparados; principalmente em seus últimos contos, Conan Doyle escreveu um Sherlock muito mais humano e emocional por influência de perdas que havia vivenciado recentemente.


Entretanto, esse não foi o problema. Apesar da maioria dos contos de SH serem de domínio público, suas últimas escrituras, justamente, não são. Isso rendeu um pequeno processo à Netflix, mas os colaboradores e herdeiros de Conan Doyle chegaram a um consenso, e o desentendimento foi rapidamente resolvido.


Enola Holmes nos conta a história de Enola, uma garota de 16 anos que mora no interior da Inglaterra com sua peculiar mãe. Com o pai falecido e os dois irmãos mais velhos fora de casa, a filha mais nova dos Holmes aprendeu tudo que sabia com sua mãe, e sentia-se confortável com a vastidão de seu lar e com a ausência de formalidades. Certo dia, entretanto, Enola acorda para descobrir que sua mãe havia desaparecido, e se vê nas mãos rígidas e responsáveis de seu irmão mais velho, Mycroft.


O filme da Netflix nos traz uma aventura cativante quando a personagem de Millie Bobbie Brown decide fugir de casa e investigar o desaparecimento de sua mãe, apenas com pequenas pistas deixadas para trás pela sua progenitora. A história envolve a família inteira, desde o pai mais velho, até a filha mais nova. Cada um dos personagens, muito bem construídos, levam ao público o desejo de saber um pouco mais sobre suas histórias individuais; mesmo os mais mesquinhos e rabugentos, como Mycroft Holmes.


O espectador é abraçado pela história com a ousada quebra da quarta parede: Enola Holmes conversa conosco o tempo inteiro; nos faz perguntas e esclarece dúvidas que podemos vir a ter. Apesar da técnica ser antiga no cinema e no audiovisual, é um desafio fazer com que isso funcione da maneira desejada. Depois do fenômeno Fleabag, a série de Phoebe Waller-Brigde, o padrão da derrubada da quarta parede está altíssimo. Nenhum diretor deseja que a técnica acabe se tornando desconfortável para o espectador, como no filme Alfie, de 2004, por exemplo.


Apesar de agradar em tantos sentidos, Enola Holmes deixa um grande buraco - talvez na intenção de um gancho para uma futura continuação, mas que, ainda assim, tornou-se incômodo. A justificativa de Eudoria, matriaca Holmes interpretada por Helena Bonham Carter, fica solta, vazia e inconclusiva. Apesar da busca pela mãe ofuscar-se por maiores problemas ao decorrer da história, esperava que, nos minutos finais, o público receberia um esclarecimento legítimo de tudo que aconteceu. Entretanto, o filme nos deixa apenas com suspeitas das intenções de Eudoria Holmes, e eles não parecem suficientemente satisfatórias para o abandono da filha adolescente. Talvez saibamos mais sobre isso se decidirem continuar com os filmes de Enola - o que já está sendo muito cobiçado.


Enola Holmes é um filme divertido, mas consistente, que nos presenteia com uma série de mulheres fortes e poderosas. Todos os acontecimentos são entrelaçados por um motivo comum: a conquista do voto feminino. A ascensão de filmes com protagonistas e mulheres emancipadas marca a nova geração de crianças que crescerão acreditando que não há limite para o poder feminino; que a luta pelos nossos direitos começou há séculos, e apesar das nossas conquistas, ainda há muito a ser almejado ao redor de todo o mundo.


Enola Holmes é inteligente e sagaz, e, em meio a anagramas, flores e mistérios, nos deixa a mensagem de que estar sozinha não precisa significar entregar-se à solidão, e, sim, ser independente para poder escolher seu destino por conta própria.


Nota: 4/5 Lágrimas


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