Crítica: Collective (2020)
Caio Scovino
Muito mais semelhante da realidade brasileira do que temos noção, a política romena há anos vem sendo apontada como corrupta e demagógica. Em cima disso, Collective cria uma narrativa de investigação que abarca o espectador e o leva dentro da esquema de fraude que envolve a política e grandes empresas. Tendo início na tragédia da boate “Colectiv”, na capital Bucareste, que dentre os feridos levados aos hospitais foi registrado uma taxa de morte por infecção hospitalar altíssima.
Seguindo o personagem do jornalista Catalin Tolontan, durante a primeira metade do filme o mesmo investiga o porquê das infecções e transitando por esquemas de fraude simples como adulteração de produtos de desinfetantes hospitalares vai escalando para convênios e licitações adulteradas, esquemas de fraude de superfaturamento até chegar a descoberta de uma máfia de diretores hospitalares no país.
Em sua metade, uma troca dê personagens ocorre logo após a renúncia do secretário de saúde e o documentário passa a seguir seu sucessor, o jovem Vlad Voiculescu. Agora o filme que ia às ruas contra o governo passa a participar das reuniões e ter um caráter quase de “espião”, trazendo a público realidades do funcionamento da máquina pública e como é intrínseca sua estrutura e como a corrupção é tão bem instaurada como seu funcionamento.
É mérito do documentário apresentar um tema tão importante e expor as falhas na política democrática moderna, deixando claro o papel do jornalismo como quase um poder moderador das ações do estado.
Em contraponto, a estrutura escolhida pelo diretor Alexander Nanau é extremamente efetiva no ponto cinematográfico, mas não se aprofunda nas discussões políticas e sociais da própria obra. Ao se escolher ter “heróis” em sua narrativa, toda a dualidade humana se perde, junto com os questionamentos que deveriam ser levantados.
No geral um projeto sólido, que consegue mostrar um panorama amplo, mas peca em não levantar perguntas.
Nota: 3 / 5 Lágrimas

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