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Como o carro representa a sexualidade

Análise: Franquia Velosos e Furiosos (2001 - 2021)

Lucas Raposo


Da gasolina que queima à adrenalina que libera, o prazer enérgico que envolve os corredores da franquia bilionária Velozes e Furiosos, transpõe em nossas emoções os fetiches herdados do fordismo. Através da produção em larga escala, fomentada pela ideologia de Henry Ford nas fábricas de veículos Ford Motor Company, cravou-se no vão capitalista o desejo de consumo que saciasse o ritmo industrial, trazendo à tona a distinção social motriz de status: quanto melhor o produto que consumo, melhor sou. Partindo desta perversão do sistema, o termo “fetiche” baseia-se etimologicamente no conceito de um objeto atribuído a uma virtude sobrenatural, se tornando poderoso. Sendo assim, a fetichização da mercadoria explica o poderio empregado aos personagens de Velozes e Furiosos com seus possantes veículos ostentados, se distinguindo de nós, meros mortais.


Nesta franquia fílmica de carros, partindo das competições clandestinas de racha até à planos de salvação internacional, presenciamos o desbravamento das possibilidades deixadas pelo surgimento do cinema digital. Tratando-se de um espetáculo tecnológico, uma parte do sucesso de Velozes e Furiosos, atribui-se ao deleite de uma utopia científica que de antemão, nos amedrontaria. De Frankenstein (1931) ou O Exterminador do Futuro (1984), o medo humano do que a máquina poderia fazer conosco vibra em trama. Porém, um carro é incapaz de se rebelar, sendo o nosso novo cavalo domado. O que se esquece, é da associação que realizamos simbolicamente ao incorporarmos um veículo de luxo ao poder. Esta relação fetichista em conjunto social da corporeidade, considerando que, o corpo é algo inacabado de nossa identidade, sempre buscando encontrar um padrão ideal, é resolvida quando se encarna um carro ostentatório por alguém que faça bom uso de suas possibilidades, abrangendo assim, a relação de gozo e de sexualidade.


No segundo filme, + Velozes + Furiosos (2003), logo na primeira corrida os competidores avançam enquanto mostram a compreensão de seu próprio ritmo, xingando uns aos outros, não como forma de provocação, mas de auto estimulação para o alcance da orgástica vitória. Enquanto aqueles carros acelerarem, quem pilota estará atribuído a uma competição fálica. Portanto, é por isso que os personagens de Velozes e Furiosos analisam os motores como se fossem uma anatomia a ser cultuada. Através da fetichização imposta pela mercadoria-veículo, o piloto que melhor souber ostentar, terá a melhor superação de sua própria realidade, se tornando poderoso. Desta sensação de poder, não é só por mera comercialidade que assistimos as celebrações quase que orgíacas nas festas que comumente acontecem nos filmes, pois o que está em questão é justamente a exposição desse dimorfismo sexual daquele que se destaca nas ruas, atribuindo, então, a aquisição de invejáveis amantes.


O fetichismo de Velozes e Furiosos trabalha em seus princípios morais e eróticos, enquanto atrai um público através de espetáculos visuais e estimulações hiper-reais, trazendo a efetividade dos automóveis à projeção de um poderio relacionado a ostentação. Se o capitalismo dita que você é aquilo que consome, seu desempenho social e sexual está, aqui, relacionado ao desempenho luxuoso de como se pilota a vida. As possessões pelos carros são nossos desejos de destaque e exclusividade; é poder sermos os melhores ao obtermos os melhores produtos, criando assim, a emergência de novos modelos de consumo para o nosso cotidiano. Eles não vendem carros em si, mas o sentido que podemos atribuir aos valores ostentatórios que restam a nossa sociedade, enquanto nos divertem e nos fazem sentir inspirados. Em suma, além das corridas frenéticas às emocionantes cenas de amizade, a franquia Velozes e Furiosos (em seus dez filmes, até agora) carrega muito mais bagagem do que se pensam, servindo como um grande veículo a ser estudado para entendermos a nossa contemporaneidade.

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