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Come on, season 12, let’s get FRACK-ENING!

Atualizado: 1 de ago. de 2020

Crítica: RuPaul's Drag Race

Marco Souza


Três diferentes situações. Você tem uma conta no Twitter; você tem um(a) amigx que faz parte da comunidade LGBTQ+; e/ou você já tentou procurar um gif pra mandar no seu chat em grupo, mas acabou se deparando com uma drag queen fazendo caretas e falando bizarrices. Se você já vivenciou alguma dessas três probabilidades, você certamente tem algum nível de conhecimento sobre o que é RuPaul’s Drag Race. No caso de você ser um hétero inocente perdido em nosso site (inclusive, bote nos comentários como que você foi parar aqui), eu darei uma breve explicação do que é o fenômeno conhecido como RuPaul’s Drag Race.


Tendo sua primeira temporada sido exibida mais de uma década atrás, em 2009, Drag Race é um reality show de competição que tem como o objetivo achar a próxima “next drag superstar”, a mais nova sucessora de RuPaul, que é a drag queen vanguardista mais reconhecível da cultura pop norte-americana desde os anos 90, e por acaso a dona e apresentadora do programa, caso o nome já não tenha entregado. Ah, atualmente ela também está sendo investigada por denúncias de ter um império de fraturamento hidráulico no rancho multimilionário dela. Vocês pesquisam no Google depois.


Drag Race, como um programa, começou como uma paródia dos reality shows que eram famosos na época, como America’s Next Top Model e Project Runway, mas no lugar das participantes terem que fazer uma variação da mesma tarefa todo episódio, só que com obstáculos diferentes, Drag Race faz suas cobaias terem que passar por todas as áreas do entretenimento: atuação, canto, dança, modelagem, confecção de roupas, maquiagem, design, improviso, e claro, os lip syncs. Eles são um momento crucial ao final de todos os episódios, aonde as duas queens (há exceções) com o pior desempenho batalham entre si em uma épica performance (muitas exceções) de dublagem ao som de uma música famosa (mais exceções ainda), e a pior é eliminada da competição.


O programa, que nasceu na Logo, um pequeno canal pago destinado à população queer dos Estados Unidos, logo mostrou seu potencial global: as queens, tendo personalidades altamente carismáticas, extravagantes e por vezes egocêntricas, são também parte de uma população marginalizada e têm suas próprias histórias de superação, oferecendo as perfeitas participantes de um reality, já que não apenas fazem os espectadores se emocionarem e se verem nas trajetórias de vida das queens, mas também oferecem barracos e confusões todos os episódios. Alie isso à momentos icônicos que são altamente memeáveis e storylines que podem ser facilmente fabricadas pelos produtores e pelo próprio ambiente, e temos um programa de 12 temporadas normais, 5 temporadas All Stars, 3 versões internacionais (com mais a caminho, inclusive uma brasileira!), 3 spin-offs e 13 Emmys sendo exibido num dos maiores canais não pagos da televisão estadunidense, a VH1.

E com isso, finalmente chegamos ao ponto principal dessa postagem: a mais recente temporada regular do programa, seu décimo segundo ciclo, é realmente boa o bastante para carregar o enorme legado que Drag Race vem moldando em meio ao público mainstream? Bom, eu diria que depende a quem você pergunta isso, mas na minha opinião, como um fã que já assistiu todas as temporadas e acompanha ao vivo desde a oitava, quando ainda era na Logo... é meio tanto faz.


Não me leve a mal, eu amo Heidi N. Closet tanto quanto o próximo, e ela definitivamente vai se consolidar na fanbase do programa como uma das queens mais amadas de todos os tempos. E objetivamente falando, a décima segunda temporada é sim um ótimo ponto de início para alguém que quer entrar no universo de Drag Race. O elenco é completamente amigável entre si e (quase) todas as queens são maravilhosas, diversos pontos relevantes quanto à população queer são discutidos (ainda mais porque é ano de eleição nos EUA), e não podemos negar que o olhar morto de decepção de uma certa queen em um certo episódio vai entrar na história do programa, assim como alguns dos lip syncs.


Mas então temos ela, Sherry Pie. Por motivos de facilitar a crítica e não darmos uma plataforma para esse indivíduo, chamaremos ela apenas de “Entortada”. Antes do segundo episódio da temporada ser exibido ao vivo na VH1 (ele apenas entra no catálogo da Netflix no dia seguinte aqui no Brasil), a World Of Wonder, produtora do programa, que no caso tem a própria RuPaul como um dos sócios, notificou os fãs através das redes sociais que Entortada tinha sido desqualificada da competição, após diversas vítimas de assédio sexual por parte de Entortada terem se manifestado contra as atitudes da participante. A partir desse episódio, todos os seguintes tiveram uma pequena introdução explicando a situação, já que por ter sido gravada um ano antes de sua exibição, a temporada inteira já tinha sido definida, então o máximo que poderia ser feito é banir Entortada da final, que é gravada ao vivo, e tentar reeditar às pressas o máximo da presença de Entortada nos episódios.


E francamente, a edição realmente foi feita de uma forma na qual muitas vezes esquecemos completamente da existência de Entortada até que ela apareça novamente na passarela. Mas enquanto posso elogiar essa parte da edição, outra parte igualmente importante se revela: o quanto Drag Race é um programa baseado em fórmulas. Não é surpresa para os fãs de longa data do reality show que a edição é feita de forma intencional a gerar e intensificar arcos e storylines entre as queens, sempre pintando algumas como heroínas e outras como vilãs. Mas o que acontece quando uma personagem chave do roteiro tem que ser literalmente cortada da história? Essa temporada é a exata prática disso.


Não entrarei em detalhes sobre a influência de Entortada sobre a trama para não adentrar território de spoiler, mas é claro que a produção e os jurados pretendiam fazer de Entortada uma das maiores personagens da temporada. Não é novo que algumas queens são favorecidas e se safam de coisas que outras são eliminadas por fazer, mas Entortada não apenas se beneficia disso, como também é “coincidentemente” sempre a que pergunta às outras sobre suas trágicas histórias de vida no momento no meio do episódio que gosto de chamar de “Espelho da Desgraça™”. O número anormal de confessionários de Heidi N. Closet (que aliás foi muito bem vindo), e o fato da maioria dos arcos da temporada terminarem quase que completamente quando se chega na metade da mesma, apenas somam à estranha sensação que essa temporada passa a um fã de longa data. Nada parece acontecer ou andar pra frente, e todos os momentos que parecem tentar transmitir essa ideia são baseados apenas em confessionários do que em interações entre as participantes.


Você chega no final da temporada e ama todas as queens, obviamente, mas você não sente uma real conclusão. Uma venceu, as outras são maravilhosas e você segue todas elas no Instagram e torce pra vê-las em um All Stars e... é isso. Dia 28 de Maio, a décima segunda temporada do programa acabou, e já no dia 5 de Junho a quinta temporada do formato All Stars passou a ser exibida. Desde sua nona temporada regular em 2017, primeira exibida na VH1, muitos fãs reclamam do quanto o programa passou a ser vazio e praticamente focado em capitalizar encima dos talentos de performers incríveis do que no próprio legado de RuPaul (que a esse ponto já foi manchado diversas vezes). E é verdade.


O humor do show foi completamente atenuado para se encaixar aos padrões da grande mídia, a cada dois minutos temos um merchandising diferente, muitas vezes RuPaul sequer parece ligar para as participantes (o que já foi confirmado por várias ex-participantes), as decisões são mais arbitrárias do que nunca pra gerar repercussão (temporada 11 a parte), e o show apenas milita quando é conveniente ou para quem lhe é conveniente, como homens cis gays, vulgo RuPaul, sem nunca ter denunciado como a própria fanbase do programa é extremamente tóxica e inclusive racista.


Dito tudo isso: ainda é um bom show. Querendo ou não, Drag Race é único por causa da nova leva de participantes toda temporada. A grande maioria delas tem o ofício de drag como seu único trabalho, então é sempre visível o quanto elas amam a arte e se esforçam, fazendo com que seja fácil ama-las quase que instantaneamente. Dessa temporada, por exemplo, Jan, Jaida Essence Hall, Widow Von’Du, Rock M. Sakura, Jackie Cox, Nicky Doll e Heidi N. Closet (obviamente) são queens que eu definitivamente torço para terem um futuro brilhante a sua espera. Enquanto não temos um programa que representa a comunidade LGBTQ+ em sua totalidade (talvez Dragula?), ainda podemos apreciar o que RuPaul’s Drag Race fez e ainda faz pela comunidade, trazendo para o mainstream algo que era inimaginável não tão longe do presente.


(Mas caso queiram temporadas realmente boas: da 3ª até a 6ª são todas ótimas)


RUPAUL’S DRAG RACE (12ª TEMPORADA) -> 3/5 LÁGRIMAS

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