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A melhor temporada do melhor drama dos últimos anos

Crítica: The Crown (2016 - )

Raiana Viana


A série The Crown (2016 - ) não é só a melhor produção da Netflix, mas também a melhor série dramática dos últimos cinco anos. Claro que você vai lembrar de Game of Thrones, The Handmaid’s Tale, Sucession, entre outros... Sim, essas séries são ótimas, com exceção de Sucession, as outras não conseguiram manter o equilíbrio entre as temporadas. GOT, por exemplo, acabou na sexta temporada! O que veio depois só serviu para traumatizar a todos. The Handmaid’s Tale consegue manter o mínimo de coerência, ao contrário de GOT, mas mesmo assim, as duas últimas temporadas não conseguiram alcançar o padrão da primeira, principalmente a terceira temporada que mais enrola do que entrega.


Agora Sucession, essa sim, consegue bater de frente com The Crown. As duas primeiras temporadas da série são ótimas e a segunda consegue ser ainda melhor que a primeira, porém, a desvantagem da série em relação a The Crown está talvez no maior brilho da quarta temporada da série britânica: O apelo emocional. A séria da HBO não conta com o fator histórico, claro, é uma sátira de umas das famílias mais poderosas dos Estados Unidos, mas a família Murdoch nem de longe tem a importância histórica e sentimental que a família real britânica representa. A entrada de Princesa Diana e da Primeira Ministra Thatcher, entregam à atual temporada da série um apelo emocional muito significativo, seja na já pré-existente empatia por Diana ou no pré-existente desprezo por Thatcher. Porém, o espectador não precisa ser um sabe-tudo da família real e já ter os seus sentimentos declarados à essas duas personagens históricas, pois para aqueles que apenas acompanham a série, a quarta temporada faz questão de entregar-lhes um drama excepcional, carregado pelas novas personagens muito bem introduzidas e desenvolvidas. E o apelo emocional, aliado a já constante excelência em produção, roteiro, direção, fotografia e em atuação, faz com que The Crown entregue sua melhor temporada e, sem dúvida nenhuma, o melhor drama de 2020.


Em produção, a série continua exemplar. O trabalho e o orçamento dedicado à quarta temporada são notáveis e a preocupação com os detalhes dos fatos ocorridos eleva a direção de arte a um padrão impecável, padrão que já era impressionante nas primeiras temporadas. A direção e a fotografia são alavancadas por desempenhos irretocáveis, um combo que entrega toda a montanha-russa de emoções presente na temporada. A cada plano e a cada movimento de câmera, a imersão do público é uma certeza, e a entrega na personificação daqueles personagens históricos, por parte do elenco, coloca o espectador exatamente onde a série quer: No desgosto pela família real, na conexão com Diana e no desapreço a Thatcher.


O foco continua na personagem da rainha Elizabeth, afinal ela é a coroa e, como a própria série faz questão de expor diretamente: Ela é a essência do dever de todos ali. E é nessa temporada que a série consegue, de fato, apresentar um lado mais insensível da rainha e, em simultâneo, o seu lado mais humano como soberana. Desde a primeira temporada foi possível acompanhar o seu desenvolvimento que gradualmente foi abrindo espaço para a rainha Elizabeth II, deixando para trás a Elizabeth. De fato, a série brincou por anos com essa linha tênue, porém em sua quarta temporada, apesar de a situação política às quais coloca a rainha em um lado mais humanitário frente a questões sociais, a série entrega a rainha Elizabeth conhecida por muitos nos dias atuais: Uma rainha nada moderna que, assim como grande parte da família real, vive em mundo muito protegido e distante da realidade. E por mais que a sua defesa da coroa seja bem sucedida, a pessoa Elizabeth falhou em compreender e confortar sua própria família.


Mesmo com o foco na rainha, como deveria ser, a temporada consegue equilibrar perfeitamente esse foco com às duas novas personagens, Margaret Thatcher e Princesa Diana. Apesar de serem apenas mais duas personagens, como nas demais temporadas que transitam no sistema real, sendo puxadas e repelidas pela força gravitacional da rainha Elizabeth, Thatcher e Diana funcionam, muitas vezes, como um pêndulo. Por um lado, a primeira-ministra desafia e confronta a rainha com seus poderes políticos e, por outro lado, Diana desafia não só a rainha, mas também a família real e seus protocolos, com sua humildade e seu carisma, torna-se a versão mais adorada pelo povo de uma família real desgastada. Há uma energia e um entusiasmo que parece pairar sobre as duas personagens quando em cena, seja pelo apelo emocional da já conhecida trajetória das duas, ou pelo certeiro roteiro e grandes atuações entregues por Gillian Anderson e Emma Corrin.


Anderson entrega perfeitamente os maneirismos de Margaret Thatcher, há uma ansiedade e um ímpeto em sua interpretação, que coloca a primeira-ministra justamente em seu papel na história: Uma fanática por seus ideais, que preza pelo autocontrole, austeridade e preconceitos em sua vida, assim como no controle de seu país. Isso tudo acima de qualquer identificação social e com seu próprio povo. Já Emma Corrin é a verdadeira estrela da temporada, sua Diana Spencer é impecável. Sua missão era, sem dúvidas, a mais difícil da série, muito pela imaginação cultural que envolve a princesa. Diana representa até hoje, não só o poder de uma celebridade global, mas também a ideia de uma realeza carismática, receptiva e humana. Ela foi e é admirada até hoje principalmente por viver o conto de fadas que terminou em uma terrível tragédia. Aparada por um roteiro agudo, Corrin leva a sua Diana a transitar por um casamento complexo e cheio de nuances com o príncipe Charles, seus problemas com bulimia e ansiedade, seu relacionamento unilateral com a família real e sua solidão em meio a imensa popularidade e comoção popular. Corrin e o texto conseguem o confuso e doloroso envolvimento de Diana com a família real, mas sem colocá-la em um papel de vítima, já que a série apresenta um retrato de Diana, que a coloca muito bem compendiada em sua nova posição de poder, a sua incomparável imagem como realeza. Há uma ternura na interpretação de Corrin, sua Diana é vulnerável e suas emoções oscilam e, mesmo quando ela se transforma em uma celebridade global e se torna confiante diante da imprensa e do público, esta ternura nunca a deixa. Os episódios centrados em Diana são os mais radiantes, intensos, dolorosos, e, com uma direção e movimentos de câmera precisos, o espectador viaja por uma montanha-russa de emoções ao lado da princesa.


A quarta temporada de The Crown parece a combinação do que há de melhor nas três primeiras temporadas levada a um trabalho refinado, exuberante e contido em simultâneo, que entrega uma precisão acolhedora. Tudo nela é impecavelmente bem feito! Os detalhes contados dos fatos históricos apelam para o emocional do espectador, o sabido desfecho é um ímã e o poder de sua atração se torna cada vez mais forte, através do humor, da perversidade, do drama e da dor tão bem expostos ao longo da temporada. Uma temporada bastante esperada por sua audiência e, que sem reservas, entregou tudo que ela pedia.


Nota: 5/5 Lágrimas


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