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Uma miscelânea razoavelmente divertida

Crítica: Cinderela (2021)

Caio Scovino


Cinderella de 2021 é um filme estranho. Ao mesmo tempo que tenta ser uma adaptação do conto original, no mesmo sentido do recente remake de 2015, o filme inclui comentários sobre a estrutura dps contos de fada, os papéis dos seus personagens e comentários sociais.

Lembram qual outro filme faz isso? Sim, Shrek!


Tais escolhas em si não afetam a qualidade do filme, são escolhas temáticas que como já sabemos, quando bem aplicadas, temos ótimos resultados como a própria franquia Shrek. Ou em outros casos bem mal sucedidos como “ A bela e a Fera” de 2017.


Mas nosso foco, Cinderella de 2021, fica em um limbo muito específico, onde todas as fraquezas do filme são expostas mas ainda é possível se divertir com ele.

No elenco, temos a cantora Camila Cabello, que apesar de visivelmente limitada, tem um carisma inegável e dentro de um roteiro mais focado em explorar seus pontos fortes, poderia gerar bons resultados. Temos também Idina Menzel como a madrasta, muito conhecida dentro do meio de teatro musical, a atriz se esforça bastante, e conforme o roteiro permite, expõe suas facetas e carisma. Chegamos no príncipe, interpretado por Nicholas Galitzine, um personagem curioso, que incrivelmente funciona muito bem dentro do que o filme estipula, mas seu sucesso vem mesmo na capacidade cômica que as situações que o personagem passa. Alguns outros nomes no elenco coadjuvante são presentes porém infelizmente minimizados pelo roteiro. São os casos de Pierce Brosnan, Minnie Driver e Tallulah Greive. Enquanto Pierce e Minnie tem seu pequeno tempo de tela e mostram evidentemente que sabem em que filme estão e usam de seu carisma para aproveitar os pequenos momentos, quem sofre mesmo com o descaso do roteiro é a personagem nova na história, a irmã do príncipe. A personagem aparentemente tem alguma relevância mas nunca tem o tempo de cena ou o foco necessário, seu arco é resolvido junto com o arco de outras personagens, o que dá a impressão que ela só sempre esteve ali incompreendida o tempo todo, o que se choca com a trama em si.


Vale ressaltar a participação de Billy Porter, sempre cheio de carisma. E falando nele e em sua personagem, percebe-se ao longo do filme vários elementos da cultura LGBTQ+, muito além do fado madrinho ser interpretada por um homem gay, mas no tom e pequenas implicações sobre questões da sexualidade dos personagens ao longo do filme e referências a peças componentes do cenário da mídia LGBT+. O que é ótimo quando pensamos em representatividade no geral, mas como cinema, o filme parece usar desses artifícios mais como adereços do que se apropriar de fato e coloca-lós na narrativa.


Nos quesitos técnicos o filme infelizmente deixa a desejar, o conceito estético não se diferencia o suficiente do Cinderella de 2015 para que ambos não sejam comparados. Tanto no quesito de não ter elementos históricos condizentes com uma só época e a mistura dos mesmos com a atualidade, quanto da história original em si. Os figurinos de Cinderella de 2021 tem um ar muito mais artesanal e teatral do que o de 2015. O que necessariamente não é pior, porém o casamento direção de arte, figurino e fotografia fazem com que a imagem seja “chapada”. Nenhuma das cores, das texturas dos tecidos e cenários é relevante o suficiente para que o olho do expectador seja tentado. E falando em fotografia, que oportunidade perdida pela direção de não precisar se ater a uma fórmula “Disney” e poder experimentar com diferentes iluminações, cenários, mas não é isso que acontece. De certo modo visualmente, Cinderella de 2021 se assemelha mais com o Cinderella de 1997, que mesmo esse ainda consegue ter um visual um pouco mais coeso.


No geral um filme cheio de defeitos e incongruências, porém com suficientes elementos para se compreender o que a história tenta de trazer de novo e um tom suficiente “Camp” para que possamos rir ainda mais do filme. No final um gosto positivo para uma experiência que poderia ser muito melhor, mas que agarra na mediocridade.



Nota: 2.5/5 Lágrimas

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