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Uma aventura confortável e divertida, porém não tão colorida e espalhafatosa quanto merecia.

Crítica: Fate: A Saga Winx (2021)


Anna Clara


Primeiramente começo essa crítica já avisando que não serei imparcial, mas sim completamente informal, por conta da proximidade que sempre tive com o desenho original, desde a infância até a adolescência. Já deixando isso esclarecido, eu não odiei a série FATE (2021), ao contrário da grande maioria. Na verdade, achei divertida e aconchegante, o que era exatamente o que sentia assistindo ao desenho original. Longe de mim comparar as duas obras, apesar de ser inevitável por ser uma adaptação, mas são duas propostas completamente diferentes, e acredito sim que FATE se sai muito bem naquilo que se propõe, não sendo isento de algumas falhas.


A forma que os realizadores decidiram adaptar a obra gerou certa polêmica entre os fãs do desenho, por conta da proposta mais “realista”, que eu concordo em alguns sentidos, como nos animais falantes, músicas de abertura, personagens com corpos extremamente padrões e aspectos infantilizados. Todavia, a falta de representatividade no elenco principal não tem uma justificativa plausível. Segundo o criador da série, o foco era trazer uma “diversidade de corpos”, um argumento válido, porém uma diversidade não anula a outra, e por mais que eu tenha adorado a personagem Terra, nada justifica a atriz escolhida não ter sido latina, sendo que no desenho, a personagem originária, Flora, foi inspirada em Jennifer Lopez. Outro caso de white washing foi da personagem Musa, que originalmente era asiática no desenho. É muito chocante um desenho italiano de 2004 ter mais representatividade que uma série de 2021, principalmente uma que aborda assuntos muito importantes como gordofobia e machismo. Uma militância nunca deveria anular a outra.

Outra falha da série, ao meu ver, foram nos aspectos técnicos, como a direção, que apesar de fazer um trabalho bem decente na maior parte do tempo, peca na forma de apresentar alguns ambientes, principalmente o quarto compartilhado do grupo principal. Assistindo às entrevistas da produção, o quarto das Winx deveria ser um ambiente acolhedor de vivência das personagens, um espaço que elas se sentiriam confortáveis para se abrir umas com as outras e criarem laços, porém, a iluminação e os objetos de cena tornam aquele ambiente sombrio e desconfortável. Mesmo que uma das personagens coloque plantas por toda parte, isso não torna o local agradável, é um tipo de alojamento com cinco garotas de 16 anos, e com exceção de um objeto ou outro, não traz muita personalidade para aquele lugar.


O figurino e a maquiagem foram outras coisas que me incomodaram profundamente, e dizer que é por conta do realismo não passa de uma desculpa muito esfarrapada. A série Euphoria (2019) da HBO trás o figurino e a maquiagem coloridos, divertidos e cheios de personalidade, e é uma série adolescente sem nenhum aspecto mágico. No desenho original, as roupas eram desenhadas por estilistas reais, algo que trazia uma caracterização especial e única, divergindo das animações da época. Tudo bem a personagem Bloom se vestir como uma adolescente normal, mas os demais personagens que nasceram e cresceram num mundo mágico terem figurinos tão deprimentes quanto os dela não faz o menor sentido. No episódio da festa, por exemplo, temos trabalhos de maquiagem que até eu conseguiria fazer melhor (sem nenhum exagero).


A última coisa que eu tenho a reclamar (prometo) é da transformação, sem dar muitos spoilers: uma das personagens se transforma - coisa que eu sinceramente não esperava em uma primeira temporada - mas já que ia ter a transformação, por que não colocar uma asa descente? Se foi para ter um “poder” que passa pelo corpo da personagem, por quê não transformar a roupa? Se for pra ter uma trilha mística durante essa transformação, por quê não uma que lembre minimamente a original? Dê aos fãs originais algum gostinho, alguma coisa pra eles se emocionarem lembrando da infância, QUALQUER COISA! Fãs se contentam com pouco fan service se ele é entregado bem feito.


Agora chega de falar mal, vamos agora falar de coisa boa. O que FATE tem de bom, afinal? Eu diria que o principal são as personagens e suas interações umas com as outras. A amizade entre o grupo principal é formada de uma maneira que eu pessoalmente considerei orgânica e realista - apesar de eu ter achado que a Stella muda muito repentinamente, mas tudo bem, nada que me incomodou muito - e o triângulo amoroso que não existia no desenho foi feito de uma maneira satisfatória, não caindo no clichê da rivalidade feminina.


Apesar da minha crítica ao quarto das Winx, devo dizer que gostei da ambientação da escola Alfea. Transformaram aquela escola mágica do desenho, com animais mágicos, pixies e cores, em uma espécie de academia militar mágica, misturando as escolas das fadas com os especialistas, e tornando ambos os responsáveis pela segurança daquele “Outro Mundo”. A diversidade de gêneros de fadas e especialistas também foi algo que me agradou muito, e que eu sentia muita falta no desenho original. As cenas de ação cumprem seu papel e são bem coreografadas, algo que eu tenho achado bem raro nas últimas séries que assisti. A ambientação mais sombria do mundo mágico causou uma “divisão de águas” entre os fãs, porém, principalmente nas cenas mais puxadas para o terror, nos ataques dos seres “Queimados”, foi feito um trabalho bem interessante para uma série adolescente. Pelo visto os diretores andam assistindo O Mundo Sombrio de Sabrina (2018) e fazendo anotações.


Eu tive muito receio de começar a assistir à série, tanto por conta da memória afetiva, quanto por ser uma série adolescente (das quais não sou a maior fã), porém me surpreendi positivamente ao me deparar com uma série divertida e aconchegante, com mistérios que realmente me prenderam e sem “enrolações”. A quantidade limitada de episódios torna possível assistir a série inteira em menos de um dia, sem ser cansativo, e deixa um final em aberto que te faz querer conhecer mais daquele mundo e saber o que irá acontecer com aquelas personagens, e acho que isso é o mais importante em uma série, você se importar e querer conhecer mais aquelas pessoas. Apesar de algumas ressalvas, FATE: A Saga Winx entretém, cativa e conquista, te fazendo querer mais. Só tenho um pedido Netflix: traz a Tecna na próxima temporada, nunca te pedi nada.


NOTA: 3,5/5 Lágrimas



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