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Todas as Mulheres do Mundo - Um Poema de Amor para o Amor

Atualizado: 1 de ago. de 2020

Crítica: Todas as Mulheres do Mundo

Gustavo Fernandes


Em 1966, Domingos de Oliveira estreou como diretor no cinema com o longa- -metragem Todas as Mulheres do Mundo. O filme foi concebido pelo cineasta como um poema de amor para Leila Diniz, sua ex-namorada, de quem havia se separado no ano anterior. Em 2020 foi lançada pelo Globoplay a minissérie de mesmo nome, idealizada por Jorge Furtado com Domingos ainda em vida. O seriado, escrito por Furtado com Janaína Fischer, busca transmitir toda paixão que o diretor e dramaturgo exprime ao longo de sua obra, encerrada pelo documentário Os 8 Magníficos (2017).


O fio condutor do seriado é o cotidiano amoroso de Paulo, encarnado competentemente por Emílio Dantas. A estrutura narrativa da série é definida pelo envolvimento do protagonista com uma nova mulher a cada episódio. Cada uma dessas com sua própria personalidade e seus próprios mecanismos de atrito com os de Paulo. No entanto, um vínculo permanece intacto do primeiro ao último episódio: o de Paulo com Maria Alice, vivida brilhantemente por Sophie Charlotte.


Maria Alice, interpretada por Leila Diniz no longa de Domingos, é instigante e apaixonante. O carisma de Charlotte ao encarná-la faz com que o espectador entenda toda a admiração que Paulo sente por ela. Tal admiração, no entanto, o torna um refém de seus próprios sentimentos. É válido lembrar que essa é uma das mais fortes camadas componentes do protagonista, na contramão da observação superficial de que ele é apenas um mulherengo que encarna o estereótipo de “esquerdomacho”. Para Furtado, inclusive, Paulo é um conquistado, e não um conquistador.


Outro vínculo retratado com esmero pela minissérie é a amizade entre Paulo, Laura e Cabral. Realista e independente, Laura é interpretada energeticamente por Martha Nowill. Já Cabral ganha vida através de Matheus Nachtergaele, que encarna com maestria toda essência fortemente romântica e sonhadora do personagem, eternamente apaixonado por Glorinha (Priscilla Rozenbaum). É confortante e divertido acompanhar as peripécias individuais dos personagens, quase sempre reunidas, em algum momento, no apartamento de algum deles.


Em suma, pode-se dizer que trata-se de uma obra sobre a multiplicidade do amor. A espinha dorsal, como supracitado, é o sentimento de Domingos por Leila Diniz. Sentimento que permaneceu intacto mesmo após a separação do casal, contrariando a ideia de finitude do amor. Paulo e Maria Alice são, certamente, alter egos do dramaturgo e sua ex-esposa, respectivamente. A multiplicidade de facetas dos laços construídos pelo protagonista ao longo dos 12 episódios é transmitida através da roupagem vívida e contemporânea atribuída pela direção de Patrícia Pedrosa.


A diretora, responsável pela bem sucedida Cine Holliúdy, imprime em tela toda a vivacidade do texto de Furtado, fazendo uso perspicaz da montagem e da fotografia - constantemente marcada por um filtro próximo à cor salmão. Pedrosa também faz uso expressivo de câmera na mão, transmitindo toda organicidade e fluidez inerentes à narrativa do seriado. É interessante notar, aliás, como a linguagem da diretora dialoga com a de Furtado, responsável pela direção de O Homem que Copiava (2003) e Rasga Coração (2018).


Outro departamento que merece destaque é o musical, marcado por grandes nomes femininos da música brasileira, como Alcione, Maria Bethânia, Marisa Monte e Rita Lee. A música acompanha, ao longo dos episódios, os encontros e desencontros de Paulo, sempre cantados por uma grande cantora a cada episódio. O tema de abertura, a música Carinhoso de Pixinguinha com letra de Braguinha, aliás, muda de intérprete de episódio para episódio.


Todas as Mulheres do Mundo consolida-se, ao fim de seu primeiro ano - e provavelmente último -, como um delicioso ode ao amor em suas mais diversas facetas. Seja quando objetiva provocar o riso ou quando intenta emocionar o espectador, o seriado não abandona, em nenhum momento, seu mais forte traço: o coração pulsante da obra de Domingos de Oliveira.

NOTA: 4,5/5 Lágrimas


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