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Ataque dos Cães - Faroeste Maquiavélico

Crítica: Ataque dos Cães (2021)

Julia Alfa


“Quando meu pai faleceu, eu só queria a felicidade da minha mãe. Que tipo de homem eu seria se não ajudasse a minha mãe? Se não a salvasse?”


Ataque dos Cães é uma produção da Netflix de 2021, baseada no romance de Thomas Savage, “The Power of The Dog”, de 1967. Liderando as categorias do Oscar com 12 indicações, a obra foi dirigida e roteirizada por Jane Campion – a neozelandesa ganhadora de Roteiro Original por “O Piano” (1993) e indicada, pela segunda vez, à categoria de Melhor Direção. O filme conta com as fortes atuações de Benedict Cumberbatch e Kirsten Dunst e, ambiciona-se, é possível que represente a primeira vitória da Netflix em Melhor Filme.


Ambientado em Montana, 1925, e dividido em atos, o longa-metragem conta a história de um faroeste pouco convencional. O irmão do rude caubói Phil casa-se com Rose, mãe do adolescente Peter – um garoto aparentemente frágil que aspira à medicina. A partir do momento em que vivem na mesma fazenda, Phil, infeliz com o matrimônio, inferniza a vida de Rose. Retornando à casa nas férias, Peter vê a situação precária de sua mãe, e se determina a livrá-la daquele tormento.


Contando com uma fotografia exuberante e um roteiro perspicaz, Ataque dos Cães é um filme que se autodeclara poderoso. A lentidão inicial, entretanto, pode fazer com que muitos espectadores desistam da história antes mesmo que ela, de fato, engatilhe. Além disso, algumas cenas podem causar estranhamento; como a de Peter brincando com um bambolê. Assumo, ainda que julgando tão singular, que o momento serviu idealmente para concepção de uma inocência imaculada a Peter, que posteriormente se mostra muito útil.


A obra segue embebida por tensão e intriga o espectador ao deixá-lo especular o significado das ações que sucedem. Ela se sustenta em muito do que não está explícito: segredos que vêm à tona e traços velados de personalidade. A abordagem da homossexualidade censurada no início do século XX, em meio a caubóis conservadores e viris. Jane Campion constrói o filme como uma fruta, em que é possível descascar camada por camada até atingir o seu miolo.


É possível dizer que a primeira fala do filme o sintetiza perfeitamente. Nos primeiros minutos, ouvimos um voice over de Peter alegando que queria a felicidade de sua mãe; que a ajudaria e a salvaria. É isso que o garoto faz. Peter aproveita-se de sua aparente fragilidade e fraqueza para provar exatamente o oposto; maquiavélico, ele não teme sujar suas mãos para conseguir a conclusão desejada.


"Livra-me da espada, livra a minha vida do ataque dos cães.” Salmos, 22:20. É o que Peter lê no final do longa, e o versículo que dá nome ao filme. A partir dele, é possível encontrar diferentes interpretações e significados e relacioná-los à obra cinematográfica. Mas independentemente de qualquer um deles, é inegável dizer que Jane Campion conseguiu, mais uma vez, entregar um excelente filme.



Nota: 4,5/5 Lágrimas

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