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Quando o maior fantasma é o passado

Foto do escritor: Equipe LacrymosaEquipe Lacrymosa

Crítica: La Llorona (2020)

Anna Clara


Já começo dizendo que se você espera um terror de shopping center básico como o filme de título semelhante, A maldição da Chorona de Michael Chaves (ou James Wan wannabe), esse não é um filme para você. La Llorona é um filme de terror/suspense lento, que mistura de forma brilhante e sensível, o folclore e alguns terrores da história Latina.


Nós brasileiros temos o hábito de querer nos distanciar do resto da América Latina, quando na verdade nos esquecemos que muito da nossa historia se repetiu por boa parte dos países vizinhos. No caso do filme, um acontecimento tão marcante como a ditadura militar, nós negligenciamos o fato de que vários países passaram pelo mesmo ocorrido, nas mesmas circunstâncias, e que em muitos deles a opressão e a brutalidade chegou a níveis que não temos a mínima ideia. Foi o meu caso descobrindo o genocídio de povos indígenas na Guatemala, cenário que é a base do filme.


La Llorona escancara a visão da elite militar da Guatemala a respeito de seus atos; banalizando a violência, e tentando justificar a perseguição de minorias (no caso do filme os povos indígenas) como em prol de um bem maior, que seria a luta contra o comunismo, isso te lembra algo?


Falando da estrutura em si, o filme tem um grau de beleza estética impecável, que veio pra provar a força do cinema latino, e se mostrar como algo que deve ser sim ser valorizado por nós que estamos tão acostumados com os filmes Hollywoodianos.


A direção faz um ótimo uso da subjetividade e da escuridão, usando tons azulados contrastando com as sombras e trazendo sempre a presença da água como elemento da obra, que mais adiante orna com toda a proposta final. O segundo e o terceiro atos do filme se passam quase que inteiro dentro de uma casa, que apesar de ser bem grande e claramente de uma classe alta, ajuda a passar a sensação de claustrofobia e perseguição que os personagens daquele ambiente estão vivendo perante aquela situação.


Os personagens são outro grande acerto da obra, fazendo com que tenhamos simpatia por aqueles que não tiveram ação direta com as consequências da história. Pessoas que só estavam ali presentes e não podiam fazer nada além de continuar seguindo os padrões e comportamentos que lhes era impostos, tentando se adequar aquela situação. Talvez o personagem do coronel pareça “muito maquiavélico” para alguém de um país que não tenha tido uma ditadura, mas nós latino-americanos sabemos sim como o poder, principalmente militar, pode ser cruel e desumano, e como é possível que até nos dias de hoje, eles encontrem motivos que justifiquem suas ações.


Com uma visão latina sobre sua própria cultura e história, La Llorona consegue mostrar ao público os horrores da opressão do passado, e trazer junto a releitura de um folclore popular, dando orgulho e nome ao cinema latino americano que se mostra cada vez mais rico aos que se aventuram nesse universo.


Nota: 4/5 Lágrimas


 
 
 

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