Crítica: Another Round (2020)
Arthur Pereira
A tarefa de analisar ou criticar um filme que gostei ou odiei é sempre mais divertida, mas agora irei escrever sobre um filme que a única emoção que senti durante toda a exibição foi a indiferença. É importante ressaltar que a obra pode servir como gatilho para alcoólatras, já que o consumo de bebidas ocorre dezenas de vezes durante a rodagem e é apresentado a todo momento em forma de espetáculo, já que atuação e fotografia, aliada à montagem, frequentemente tornam os momentos de embriaguez em performances exibicionistas.
A narrativa do dinamarquês Druk (ou Another Round) parte de quatro professores que buscam realizar um estudo empírico aprofundado a respeito do pensamento de que os humanos nascem com uma deficiência de 0,05% de álcool no sangue. O longa-metragem já é um dos favoritos à estatueta de melhor filme estrangeiro no Oscar 2021 – ao lado do excelente documentário romeno Collective, de Alexander Nanau – e inclusive foi exibido após a cerimônia de encerramento da 44ª Mostra de São Paulo. Thomas Vinterberg, representante do movimento cinematográfico purista e metódico do Dogma 95, dirige o longa resgatando diversos elementos estilísticos do manifesto, como o fundamental uso da luz natural, a câmera na mão e a trilha sonora que ressoa no local onde se filma a cena.
A escolha de apresentar um estudo do personagem Martin mais aprofundando, enquanto apresenta uma noção básica da vida e personalidade dos outros três professores – suficiente para o espectador criar empatia por todos eles – é acertada e a dinâmica do grupo funciona muito bem. Entretanto, os personagens secundários não possuem nenhum tipo de construção mínima, servindo apenas como tábuas rasas, desinteressantes e impassíveis, jogadas nas situações provocadas pelos protagonistas dedicados à pesquisa feita com eles mesmos de cobaias.
Mads Mikkelsen é o grande destaque em uma interpretação fascinante e só deve ficar de fora das premiações devido à concorrência pesadíssima na categoria de melhor ator nessa temporada, com Chadwick Boseman, em Ma Rainey's Black Bottom, como o grande favorito. Ademais, o registro documental incluído no meio do filme e os inserts dos números de densidade do álcool no sangue dos personagens talvez sejam os elementos que mais fogem do convencional, sendo também alguns dos pontos mais interessantes da experiência.
Desse modo, o filme navega entre um humor situacional tragicômico inconstante e um drama fraco, com alguns relances da inventividade comumente apresentada no restante da filmografia de Vinterberg. Enquanto a bebida aparece como artifício e solução para todas as adversidades na vida dos quatro amigos, já existe a sensação de que tudo vai dar errado em algum momento, porém, após uma decaída gradual, o clímax é previsível. Enfim, a celebração da vida através do álcool demonstrada aqui não satisfaz nem como desconforto passível de reflexões sobre as vivências humanas e muito menos como enaltecimento construtivo de alguns dos efeitos temporários (nas comemorações e festas) relacionados ao consumo dessas bebidas. Pelo menos a dança final é divertida.
Nota: 3 / 5 Lágrimas
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