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Onde Está Meu Coração

Foto do escritor: Equipe LacrymosaEquipe Lacrymosa

Crítica: Onde Está Meu Coração

Gustavo Fernandes


A abordagem de dependência química na teledramaturgia brasileira já rendeu bons e memoráveis frutos, como o denso envolvimento gradativo de Larissa (Grazi Massafera) com o crack em Verdades Secretas (2015). O tema voltou aos holofotes em 2021 com Onde Está Meu Coração, minissérie rodada em 2019 que enfim chegou ao Globoplay. Por meio da delicada imersão no antro familiar da médica Amanda (Letícia Colin), o espectador adentra a complexidade da estigmatizada condição de dependente químico, e seu impacto na vida dos entes queridos.


Ao longo dos 10 episódios, a função de Amanda na obra alterna entre protagonista e fio condutor da trama de George Moura e Sergio Goldenberg. Isso acontece devido ao grande foco dado a seus familiares - cada um com seus dilemas internos e externos. Já no primeiro episódio, a vida da personagem vira ao avesso com a descoberta de seus pais sobre seu envolvimento com crack. O primeiro episódio, por sinal, é eletrizante e muito bem estruturado: temos a imersão no árduo cotidiano imposto pela rotina de médico residente e, paralelamente, somos jogados na densa rotina advinda do vício em drogas.


Boa parte da minissérie narra as diversas fases do tratamento do dependente químico: recaídas eventuais e negação da própria condição, por exemplo. O motor da minissérie, no entanto, é o foco dado a como o vício de Amanda impacta a vida de seus familiares - cada um com seu dilema pessoal, independentemente do adoecimento da jovem médica. A articulação entre a progressão do tratamento da protagonista e as desventuras de seus familiares é realizada com êxito pelos autores e pela diretora artística, Luísa Lima, que já trabalhou com ambos em outras obras como Onde Nascem os Fortes (2018).


É interessante como a diretora busca a constante articulação entre o intimismo e a crueza realista. A câmera alterna constantemente entre longos planos abertos de caráter mais frio e observacional - refletido também no uso expressivo de tons pastéis pelo departamento de arte - e os curiosos planos extremamente fechados de uma câmera quase investigativa que parece quase sempre querer devorar seus personagens. A roupagem da diretora é extremamente exitosa: ao mesmo tempo em que observamos os personagens à distância, nos sentimos próximos deles e de seus dilemas pessoais.


A direção encontra fragilidades quando necessita imprimir o melodrama em cena. Tudo acaba durando menos do que poderia, o que diminui consideravelmente a importância do que é mostrado. Diversos momentos de explosão soam mais como gritos deslocados do que necessariamente picos de energia narrativa. Parece existir um certo receio de abraçar a expressividade em alguns momentos, o que dificulta o relacionamento do espectador com os tão aguardados climaxes. Nesse ponto, o intimismo almejado pela série acaba sendo prejudicial a ela, pois limita consideravelmente sua desenvoltura.


O elenco não deixa a desejar e encarna com afinco a vasta gama emocional presente nos personagens da obra. O grande destaque, além da protagonista de Letícia Colin, é a ultra sensível performance de Mariana Lima, intérprete da mãe de Amanda. É importante salientar que, apesar do destaque de Mariana, boa parte do elenco brilha em momentos distintos, incluindo nomes de peso como Grace Passô, Bárbara Colen e Fábio Assunção. A nova minissérie de George Moura e Sergio Goldenberg pode não ser o trabalho mais inspirado dos autores, mas cumpre o papel de instigar e acalentar o público.


Nota: 4/5 Lágrimas

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