Crítica: Nova York Contra a Máfia
Raiana Viana
A indústria cinematográfica sabe do poder de fascinação que envolve o mundo do crime organizado, principalmente quando se trata de enredos baseados na máfia italiana. E a dominação da cidade de Nova York por conta da máfia é um dos temas favoritos da indústria, já imortalizada em filmes como O Poderoso Chefão (1972) e Os Bons Companheiros (1990). A nova série original da Netflix embarca nesse tema, trazendo um documentário em três episódios sobre a verídica e renomada investigação de cinco das famílias mafiosas mais poderosas da cidade de Nova York, durante as décadas de 70 e 80. A série documental aborda a importância da RICO (lei do crime organizado nos EUA) para a queda da máfia, e partes das operações do FBI para conseguir provas contra os cinco chefes de cada família.
A série documental Nova York Contra a Máfia entrega uma boa ambientação no começo, permitindo que o espectador entenda e sinta a situação da cidade de Nova York durante a década de 70, o peso do perigo e da influência da máfia sobre cidade é apresentado de forma clara e firme. A explicação direta da importância da RICO evidencia como o processo de investigação que estamos prestes a acompanhar é um marco, entendendo como as operações do FBI funcionavam antes da lei do crime organizado, e como ela se tornou efetiva na luta contra a máfia, providenciando maior clareza aos espectadores, que não estão familiarizados com a história. Há uma boa organização na forma em que os depoimentos e o processo de investigação são apresentados, em que, com a ajuda de um ótimo arquivo de fotos, áudios e vídeos dos momentos reais da investigação, mesclados a boas reconstituições e sequências dramáticas, apresentam o pensamento da polícia por detrás do processo, assim como explicam a mentalidade de matar ou morrer da máfia. A edição e montagem também são um ponto alto do documentário, esclarecendo e entretendo o espectador durante as explicações e depoimentos, assim como para uma constante estética de uma Nova York antiga, presente em grande parte dos depoimentos.
Porém, o documentário nunca atinge o seu potencial, que mesmo por ser uma história já bastante conhecida no mundo cinematográfico, ainda tem a capacidade de ser bem mais explorada em profundidade, além do que é entregue aqui. É evidente que a série quer focar na queda da máfia e nas operações do FBI, mas há uma completa falta de exposição de detalhes sobre as cinco famílias que dominam a cidade, deixando o espectador com uma sensação de pendência, pois há uma espera e um desejo por mais informações que envolvem o crescimento dessas famílias. E apesar de tentar nos apresentar os dois lados, com depoimentos de ex-mafiosos e dos agentes evolvidos, os testemunhos dos ex mafiosos são raros em comparação com os dos agentes. E mesmo com uma maior participação daqueles ao lado da justiça, junto das provas audiovisuais e fotográficas apresentadas, o documentário de fato nunca aprofunda nos mais diversos níveis do processo de investigação que perdurou por mais de uma década, mantendo-se em um mesmo nível de explicação do processo. Nível esse que por vezes acaba tornando o ritmo do documentário cansativo, já que escolhe por passar muito tempo em poucos tópicos apresentados, seja através de reconstituições, provas ou depoimentos, assim enrolando para chegar ao ponto desejado. Porém, no geral, esses erros não são o suficiente para atrapalhar a imersão do espectador, que conhecendo ou não a história, provavelmente vai maratonar os episódios, almejando a conclusão desse embate marcante entre justiça e crime.
A serie documental Nova York Contra a Máfia faz uma escolha entre entregar o básico bem feito ou se arriscar a mergulhar de cabeça nas diversas camadas de um material interessante e complexo. O formato em apenas três episódios deixa claro que a primeira opção foi a escolhida, oferecendo um documentário conciso e envolvente para aquilo que se propõe, apoiando-se principalmente em seu conteúdo incitante, apesar de desperdiçar a oportunidade de ser destrinçar o valioso material que tem em mãos.
Nota: 3/5 Lágrimas

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