Crítica: Drive My Car (2021)
Lucas Raposo
O expoente diretor japonês Ryusuke Hamaguchi concretiza, em Drive My Car (2021), uma brilhante adaptação cinematográfica de um dos contos do livro Homens Sem Mulheres (2014), de Haruki Murakami, um dos escritores mais aclamados da literatura contemporânea.
O filme decorre da trajetória do dramaturgo Yusuke com a morte da sua esposa, com quem tinha um relacionamento excentricamente mal esclarecido. O dramaturgo também descobre que está com uma doença ocular que o impedirá de dirigir seu querido Saab 900 vermelho e, ao ser convidado para realizar a peça O Tio Vânia (1898), de Tchécov, em Hiroshima, Yasuke terá de conviver com a motorista Misaki (obrigatoriamente contratada para transportá-lo), mesmo que contra a própria vontade.
A construção melodramática, perambulante aos princípios da vida, em sua existência injusta e passageira, é trazida à tona quando entende-se que não temos o controle absoluto deste veículo que é o viver. As pessoas são complexas mesmo que distantes, assim como elaborado no frio entrosamento de Yasuke com Misaki. A poética de Drive My Car (2021) universaliza um ser humano contemporâneo, na qual assistimos como cúmplices, uma jornada de autoconhecimento instigante e dolorosa. A conversa entre o teatro e o cinema é trabalhada com maestria dentro de um aproveitamento cênico que traz como resultado final uma obra-prima de atuações duras, porém, acima de tudo, humanas.
Apesar da longa duração da obra (179 minutos) e seu ritmo vagaroso, de fato trata-se de uma viagem. Uma viagem única dentro deste curioso divã em forma de Saab 900 vermelho. Sendo assim, é com toda certeza que Drive My Car (2021) foi um dos grandes filmes de 2021, absolutamente digno das indicações de melhor filme, melhor roteiro adaptado, melhor filme internacional e melhor direção.
Nota: 4,5/5 Lágrimas
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