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Crescer Dói

Foto do escritor: Equipe LacrymosaEquipe Lacrymosa

Crítica: Eu Nunca - Segunda Temporada (2021)

Julia Alfa


No meio do mês de julho de 2021, a Netflix lançou a segunda temporada da série Eu Nunca (Never Have I Ever). Criada por Mindy Kaling, o universo da indiana-americana Devi Vishwakumar ganhou novos 10 episódios repletos de surtos adolescentes, complicações familiares e problemas reais.


Devi é chata. Eu sei. Insuportável, problemática, egoísta, mimada. Sim, tudo isso. Mas disso a gente já sabe. Se você deu play na segunda temporada de Eu Nunca esperando que ela fosse ser qualquer coisa diferente disso, você estava apenas se enganando. Conhecemos a personalidade problemática de Devi desde o primeiro episódio da série. O que vimos na nova temporada, entretanto, são os pequenos passos que a protagonista dá para o amadurecimento. Note, por favor, que eu menciono que os passos são pequenos.


Céus, ainda bem que toda aquela história de namorar duas pessoas ao mesmo tempo acabou no segundo episódio! Entretanto, esse não foi o pior erro cometido por Devi nessa temporada. Com a chegada da nova personagem, Aneesa, a série introduz o delicado tema dos distúrbios alimentares – e o gigantesco erro cometido pela adolescente Vishwakumar. Enquanto Devi anda em círculos buscando por uma forma de pedir perdão por ter exposto o distúrbio da amiga, a trama deixa claro a seriedade do assunto, com respeito e cuidado.


Nessa temporada, o desenvolvimento dos personagens também é algo a se elogiar, mesmo naqueles com menos tempo de tela. Nesses episódios, nós conhecemos mais sobre a vida de um dos interesses amorosos de Devi. Enquanto na temporada anterior tivemos um foco maior no personagem Ben, o holofote dos novos episódios muda para Paxton. Ele ganha até seu próprio episódio, narrado por Gigi Hadid! Descobrimos mais sobre sua família e suas motivações, e ele é inserido numa jornada pessoal de superação. Paxton torna-se mais uma pessoa real e menos um rostinho bonito adjacente a um corpo escultural.


A mãe de Devi, Nalini, também ganha mais espaço na tela. Nós acompanhamos a sua jornada em busca de conforto emocional na Índia – que acaba adicionando a personagem de sua sogra à série. Ainda em processo de luto, Nalini ganha um interesse amoroso, o que torna-se conflitante tanto para sua filha quanto para ela mesma. A complexidade das relações pós-luto é abordada perfeitamente com ambas, mãe e filha, e Nalini é facilmente uma das personagens mais fortes da série inteira.


Eu Nunca pode não ser a produção mais fácil de engolir no dia-a-dia. Ela é um clichê modificado, com mais toques de realidade e defeitos humanos. Ela traz a carga emocional pesada de uma esposa que perdeu o marido; uma filha que perdeu o pai, bem à sua frente. Em todo o momento, vemos como o trauma está presente nas ações cometidas – mas não podemos jogar toda a responsabilidade em cima disso. Devi erra o tempo todo, e depois consegue mais um momento para errar de novo.


O público acostuma-se a ficar apegado a personagens perfeitos, com deslizes pequenos e facilmente justificáveis. Ou então preferem os antagonistas, já intrinsecamente ruins em suas máscaras de vilões. Devi é, inevitavelmente, a protagonista e a antagonista em só uma personagem. Ela não é uma pessoa ruim, mas faz coisas horríveis que não cabem defesa. Entretanto, ela também corre atrás, pede perdão e tenta, o máximo possível, consertar seus erros. E não é isso que significa crescer?


Eu Nunca leva a tela problemáticas importantes e as aborda de forma leve, consciente e entrelaçada a risadas ocasionais. Talvez seus olhos também fiquem úmidos, em algum momento ou outro. Advirto, entretanto, que você absolutamente passará raiva e quererá jogar o objeto mais próximo ao alcance diretamente na tela, na cara da Devi. Mas isso faz parte da experiência.


Nota: 4/5 Lágrimas

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