Crítica: Spiral (2021)
Anna Clara
Espiral: O Legado de Jogos Mortais é um filme com a premissa idealizada pelo ator Chris Rock, nosso querido ator de comédia que quis mudar um pouco sua área de atuação. O conhecido narrador de Todo Mundo Odeia o Chris quis trazer um novo ar a franquia Jogos Mortais, com um novo vilão e novos personagens, mas o que ele conseguiu foi desgastar mais ainda uma franquia que já estava no limbo a muito tempo.
Não quero jogar a culpa desse filme entediante em cima do ator apenas, afinal ele só veio com a premissa em mãos, que não é lá das mas inovadoras, mas pelo menos tem alguma mensagem por trás. Todavia, uma premissa minimamente interessante nas mãos de diretores e roteiristas medíocres não teria como causar uma boa impressão. Com a direção de Darren Lynn Bousman, um dos diretores responsáveis pela queda drástica da qualidade da franquia; e o roteiro de Pete Goldfinger, Josh Stolberg, que realmente não parecem ter evoluído em nada após a década de 2010, o filme se mostra fraco, previsível, e ridiculamente antiquado para algo lançado esse ano.
Tanto a direção, quanto o roteiro e o desenvolvimento de personagens parece ter ficado presa a décadas atrás. Sexismo, diálogos superficiais e expositivos, personagens unidimensionais e genéricos, e piadas sem timing parecem formar a base de toda a trama que chega a ser tediosa em alguns pontos. As atuações parecem estar todas no piloto automático, não tendo um personagem sequer que conquiste a atenção do espectador, todos estão presos em seus estereótipos narrativos: a delegada gatona que não faz absolutamente nada e apenas segura uma pose de líder durona o tempo todo mas não tem nenhuma fala relevante; o policial filho da mãe; o ajudante bonzinho; o pai negligente; e o protagonista amargurado. Aí Chris Rock, é visível o quanto você tentou, mas volta pra comédia. Apertar os olhos e deixar a boca semiaberta (a feição que o ator faz 90% do filme) não transparece seriedade alguma, essa decisão do ator seria cortada por qualquer diretor que fosse minimamente descente, o que não era o caso aqui.
Não vou ser repetitiva a respeito de como mais uma franquia idealizada por James Wan perdeu a sua qualidade, pois ao contrário do que aconteceu com Invocação do Mal, Jogos Mortais já estava desgastado há muito tempo, muito por conta do próprio diretor Darren Lynn Bousman, que dirigiu várias das sequências da franquia. Acontece que além dele repetir alguns maneirismos de direção que já estavam datados da franquia, como a câmera tremendo em situações de “agonia”, flashbacks colocados de maneira extremamente cafona e cortes muito rápidos na montagem, o que ele coloca de novo, não funciona. Se na franquia original diversas pessoas ficavam aterrorizadas com o boneco de ventríloquo Jigsaw, com sua voz assustadora, e qualidade reduzida em suas gravações para tornar tudo mais assustador, dessa vez um homem com máscara de porco com voz de Google tradutor faz ameaças com filmagens dignas de fan fic, chega a ser patético. O que mais assusta no filme são os erros grotescos de continuidade.
Algo que segurou a franquia por muito tempo perante o gosto popular foram as mortes, cada vez mais engenhosas e arquitetadas, que causavam agonia no espectador, o famoso “torture porn”. Nem isso conseguiu prender minha atenção, não achei nada muito engenhoso, e o que mais senti falta foi das analogias por trás das torturas, nos filmes antigos cada uma era feita especialmente pra um personagem por um motivo, aqui foi tudo simplesmente jogado, e o pior, alguns tem uns efeitos deprimentes.
Espiral: O Legado de Jogos Mortais é um filme datado, mal dirigido, com cenas de ação mal coreografadas, personagens unidimensionais e um roteiro previsível que não conseguiu acertar nem com Samuel L. Jackson no elenco, se eu tenho uma nota, ela é dó.
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