Crítica: A Chegada
Marco Souza
Às vezes nós não percebemos o quanto um filme consegue nos marcar. Claro que temos os clássicos de nossa infância e também filmes específicos que conectamos a locais, pessoas e/ou ocasiões, mas no caso de A Chegada (2016), eu diria que esse foi o divisor de águas em termos da minha relação com o cinema.
Em teoria, A Chegada é simples: é um filme sobre invasão alienígena. A esse ponto, todos nós já vimos milhares de longas desse gênero e sabemos das diversas estratégias narrativas e estereótipos desse tipo de filme. “Humanos bons, aliens maus, guerra necessária, etc”. Mas então temos o filme em questão. Embora A Chegada seja superficialmente uma ótima mistura de ficção científica e thriller, inclusive tratada de uma forma surpreendentemente realista, esse bendito filme consegue ser uma gigantesca metáfora que nos leva a um drama existencial incrivelmente complexo, mas que em momento algum se mostra pretensioso (anota aí, Interestelar) ou julga o leitor como incapaz de o compreender. São várias e várias camadas.
Não deixe o Oscar de Melhor Edição de Som ou a linda fotografia mutada e dessaturada te enganar a princípio: esse filme é muito mais que uma carinha bonita. Comunicação, tempo, vida, humanidade, esse filme tem tudo. Ao desenrolar do filme (e principalmente reassistindo), você nota como todos os aspectos foram calculados à risca. Fora os já mencionados som e cinematografia, o longa tem uma história que começa tímida, mas ao decorrer da narrativa apenas cresce e cresce, ao ponto de se perceber em retrospectiva que até o voice over inicial foi trabalhado nos mínimos detalhes. Tal estratégia definitivamente é refletida na atuação de Amy Adams (Dr. Louise Banks), que completamente carrega o filme nas costas, desde suas cenas contidas no começo, até a explosão de emoções que transmite no final, com poucas ações e falas. Nós da Equipe Lacrymosa™ somos claros fãs de Adams (inclusive clique aqui para ouvir nosso podcast Um Oscar Para Amy Adams rs), mas o fato dela não ter sido sequer indicada a um Oscar de Melhor Atriz é indesculpável.
Quatro anos atrás, quando vi esse filme pela primeira vez, eu fiquei chocado com tamanha qualidade. A grande maioria dos longas sempre têm um ponto fraco que é facilmente identificado em uma primeira sessão, mas no caso de A Chegada, tudo que se propõe é feito com maestria, literalmente um círculo perfeito. Vendo tudo isso, minha reação inicial (fora o choque) foi de completa admiração. O fato de alguém conseguir fazer um filme que em minha concepção é tecnicamente e emocionalmente perfeito, significa que eu mesmo posso conseguir com a dedicação necessária.
Sim, eu tenho a noção de que estou sendo o mais simples possível em termos da descrição do plot, mas esse é um filme que merece a completa atenção e curiosidade do espectador, principalmente porque com certeza ele irá te deixar em reflexão após seus minutos finais.
Em tempos de desconfiança e pânico global por conta da situação com o Covid-19, o famoso “micróbio do caralho”, A Chegada nos mostra que nós mesmos somos os aliens entre os demais dentro de nossa sociedade. Não há diálogo, não há companheirismo e não há compaixão, mas há medo, desconfiança e violência. Podemos não saber o caminho até nosso destino, mas todos nós sabemos nosso ponto final. O tempo de cada um é finito, mas nossas ações não, então use o seu livre arbítrio para fazer algo bom e assista A Chegada.
Nota: 5/5 Lágrimas

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